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FLUORESCÊNCIA EM CAUDAS DE SERPENTES

Atualizado: 29 de out. de 2021

Texto: Bárbara Santos Teixeira Costa


Através dos anos, a fluorescência foi relatada para diversas espécies de serpentes em todo o seu corpo, mas recentemente, em um artigo de Paul e Mendyk (2021), foi descoberto pela primeira vez que algumas espécies de serpentes apresentam a fluorescência em somente um apêndice do corpo – a cauda.


Figura 1: Trimeresurus hageni (Viperidae), originária da Ásia, a primeira serpente utilizada no estudo e a primeira a constatar-se que havia fluorescência na cauda. Autoria: Thai National Parks. Figura 2: Crotalus lepidus klauberi (Viperidae), endêmica dos Estados Unidos e México, também utilizada no estudo. Autoria: Andrew DuBois.


A biofluorescência


O mecanismo da biofluorescência é diferente daquela que conhecemos como a bioluminescência, onde organismos como os vagalumes são capazes de produzir sua própria luz. Na biofluorescência, o indivíduo absorve os raios de luz, e os reemite em uma frequência de onda diferente, resultando em uma coloração distinta. Ela pode ocorrer em diversos grupos de animais como insetos, mamíferos, aves, anfíbios e répteis, e a motivação por trás desse mecanismo pode ser muito variada, com a finalidade de atrair presas ou até mesmo como forma de defesa.


De acordo com Paul e Mendyk (2021), nas serpentes a biofluorescência já foi relatada nas famílias Leptotyphlopidae, Typhlopidae, Elapidae, Lamprophiidae e Viperidae. Mas pela primeira vez, foi observada pelos autores a fluorescência na cauda de serpentes de diversas espécies da família Viperidae, onde a fluorescência ocorreu principalmente no tecido de descamação da cauda e no tecido do chocalho, que possuíam a coloração variando de branco a azul, verde azulado e amarelo esverdeado.


Figura 3. Fluorescência da cauda das espécies estudadas. A. Trimeresurus hageni B. Protobothrops cornutus e C. Agkistrodon piscivorus. Autores: Paul e Mendyk (2021).


Mas pra que serve essa fluorescência?


Vocês lembram do famoso engodo caudal? Então! Essa é uma estratégia de alimentação relatada para vários grupos de serpentes, onde a ponta da cauda apresenta coloração esbranquiçada e as serpentes realizam movimentos conspícuos para que esta se pareça com uma larva, assim atraindo as presas.


Visto isso, neste trabalho foi observado uma coisa fantástica: a grande maioria dessas serpentes que possuíam fluorescência na cauda, também eram conhecidas por realizar engodo caudal! Por conta disso, os autores do estudo suspeitam que essa biofluorescência facilita com que a presa seja atraída pela cauda da serpente, sendo visualmente mais atraente para a presa sob certas condições de luz.


Além disso, como dito anteriormente, a biofluorescência também se encontra presente em anfíbios e lagartos com o provável objetivo de sinalização ou identificação entre as espécies desses animais, sendo que ambos são presas frequentes das serpentes. Ou seja: muito provavelmente esses animais conseguem visualizar tecidos biofluorescentes, sendo assim, capazes de ver a fluorescência na cauda dessas serpentes. E ainda mais, algumas larvas são conhecidas por possuírem fluorescência, sendo mais uma evidência de que a fluorescência da cauda pode estar atrelada ao engodo caudal.


Para finalizar, apesar do que as evidências sugerem, também existem outras explicações possíveis para a biofluorescência na cauda dessas serpentes que precisarão ser melhor investigadas, para que se descubra qual exatamente é a função desse mecanismo fantástico e intrigante.


Referências


MACNEIL, D. A glowing butt might help some pitvipers attract their dinner. Massive Science. 2021. Disponível em <https://massivesci.com/articles/snakes-glowing-uv-light-butt-month/> Acesso em: 21 out. 2021.


PAUL, L.; MENDYK, R. W. Glow and Behold: Biofluorescence and New Insights on the Tails of Pitvipers (Viperidae: Crotalinae) and Other Snakes. Herpetological Review, v. 52, n. 2, p. 221-237. 2021.

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