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VOCÊ SABIA QUE SERPENTES TAMBÉM PODEM TER PNEUMONIA?

Atualizado: 23 de jul. de 2020


Texto: Gislaine Scodeler


Vamos falar primeiro sobre a morfologia respiratória dos répteis: são animais com respiração pulmonar, com sistema respiratório composto por órgãos responsáveis pelas trocas gasosas sendo eles: traqueia, brônquios e pulmões. Algumas espécies possuem pulmões unicamerais (formados por uma única câmara) que são mais simples, presentes em serpentes e alguns lagartos enquanto outras possuem pulmões multicamerais (que se dividem em vários compartimentos) com a organização mais complexa e presente em quelônios, alguns lagartos e crocodilianos e a principal diferença entre os dois é o grau da divisão do parênquima.


Figura 1: Python bivittatus (píton birmanesa), um animal comum em cativeiros. Foto da autora.


Nas serpentes as diferenças são relevantes, podendo ser, quando presente, o pulmão esquerdo menor que o direito na família das Boidae, vestigial nas Elapidae ou ausente nas Viperiadae, sendo então o pulmão direito o mais funcional.


As serpentes são animais ectotérmicos, que habitam quase todos os ecossistemas com exceção dos pólos Norte e Sul e tem se tornado cada vez mais frequentes como pet tendo sua criação regulamentada pelo IBAMA por meio da Instrução normativa Nº 07, de 30 de abril de 2015, além de serem mantidas em serpentários e cativeiros para a produção de soro antiofídico e pesquisas laboratoriais e também quando aprendidas ou resgatadas e não possuem condições de retornarem a vida livre.


Mesmo recebendo manejo adequado, a criação de animais em cativeiro pode gerar estresse levando o animal ao desequilíbrio homeostático, o que pode causar enfermidades como anorexia, ulceração da pele, aumento da suscetibilidade a infecções por microrganismos patogênicos e até mesmo óbito pela “síndrome da má adaptação”.


Por possuírem condições anatomicamente favoráveis as infecções mais comuns costumam ser as respiratórias, incluindo as pneumonias, já que devido a sua morfologia existe uma maior retenção das secreções respiratórias e exsudatos. Essas infecções podem ser fúngicas, virais, parasitárias ou bacterianas (principalmente causadas por bacilos Gram- negativos) podendo ser primária, quando um vírus lesiona a mucosa do trato respiratório diminuindo os mecanismos de defesa ou secundárias, causadas por bactérias oportunistas em decorrência da lesão inicial.


Tanto os seres humanos quanto os outros animais estão expostos a diversos microrganismos e alguns deles fazem parte da microbiota residente do indivíduo (normalmente encontrada no tecidos cutâneos e mucosas) não causando danos ao mesmo em condições fisiológicas normais.


Muito se tem estudado acerca da caracterização da microbiota das serpentes, mas sabe-se que mesmo sendo comuns em indivíduos sadios os principais causadores de pneumonia nesses animais costumam ser primariamente: Pseudomonas sp., Aeromonas sp., Klebsiella sp., Proteus sp., Escherichia sp. e Citrobacter sp.,Salmonella sp. e Shigella sp. também podem ocorrer de forma isolada, portanto as infecções causadas por esses microrganismos podem ser tanto endógenas (causadas pela própria microbiota após uma baixa no sistema imune, por exemplo) ou exógena quando o hospedeiro é atingido por uma fonte externa.


Além das bactérias alguns fungos como: Aspergillus, Beauvaria, Geotrichum, Mucor, Cladosporium e Paecilomyces e também o vírus Paramyxovirus podem ser responsáveis por causar pneumonia em serpentes.


Os sinais clínicos mais comuns em animais acometidos por infecções respiratórias são: boca aberta, dispneia ou a famosa falta de ar, contrações intercostais e corrimento nasal e o diagnóstico precisa ser feito através de exames microbiológicos como cultura de lavado traqueal, onde uma pequena quantidade de secreção é coletada do animal e após diluição é depositada em uma placa de Petri contendo meio de cultura adequado para verificação do microrganismo presente ou swab de glote onde um cotonete é inserido na glote do animal com a mesma finalidade do lavado traqueal, ambos realizados com sedação por um médico veterinário e ainda exames radiológicos.


Há uma grande necessidade da conscientização da conservação das espécies selvagens que vem sofrendo constantemente a ação humana. Havendo interação com os mesmos a atenção deve ser redobrada para que não haja prejuízo ao animal, é fundamental que criadores tenham conhecimento técnico-científico sobre o manejo desses animais para que a expectativa de vida no cativeiro aumente.




Referências

Luis Miguel Lobo; Amilton Santos; Nikolas Waack; Kalena Barros Silva et al. Análise morfológica e ultraestrutural do sistema respiratório de cascavel (Crotalus durissus) (Squamata: Viperidae) (Laurenti, 1768). In: ANAIS DO IX CONGRESSO BRASILEIRO DE HERPETOLOGIA, 2019, Campinas. Anais eletrônicos... Campinas, Galoá, 2019.


Matos, Letícia Bastos de. Análise da microbiota aeróbia oral de duas serpentes: Philodryas patagoniensis e Xenodon dorbignyi de uma região de dunas no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, Brasil. 2012.

de Mello, Érica Munhoz. Endo e ectoparasitos de serpentes Crotalus durissus Linnaeus, 1758 (Viperidae) de algumas localidades de Minas Gerais. 2013.

Oliveira, Cristiano Correa. Estudo soroepidemiológico da infecção por paramixovírus ofídico em serpentes mantidas em cativeiro. 2019.

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