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VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DO KAMBÔ?


Texto: Augusto Vinhas


Kambô, ou vacina-do-sapo, é um ritual utilizado originalmente por tribos indígenas do sudoeste Amazônico, como os Kaxinawá, Katukina e Yawanawa. Porém, a prática tem sido cada vez mais procurada em meios urbanos. Ele é usado para afastar a “panema”, trazer sucesso para as caçadas e, entre outros, para fins medicinais. “Panema” é o termo utilizado para definir uma “má sorte” na caça ou energia ruim. Para nós que vivemos no ambiente urbano poderíamos dizer que é como uma espécie de depressão.


Mas como é feito o ritual?

O ritual se baseia primeiramente na retirada da secreção de uma espécie de anfíbio presente na região amazônica, a Phyllomedusa bicolor. Essa substância é rica em peptídeos bioativos e também já foram reportadas propriedades antimicrobianas. Depois que a secreção é coletada em palitos de madeira, ela é aplicada na pele em cima de uma queimadura feita por um aplicador que tenha sido devidamente treinado na cultura indígena. Os sintomas iniciais incluem: náusea, sensação de queimação, desconforto abdominal e vômito. Porém, eles podem ser aliviados com a lavagem do local onde foi aplicada a secreção e com a ingestão de água. O número de queimaduras e o local de aplicação variam de acordo com o paciente, homens recebem normalmente no braço e mulheres na perna e a quantidade de queimaduras depende do peso do paciente.


Phyllomedusa bicolor. Fonte: povodafloresta


Quais são os benefícios?

Usuários e aplicadores relatam que o kambô tem efeito sobre: depressão, problemas de imunidade, problemas cardíacos, câncer e até mesmo a AIDS. No entanto, não existem pesquisas científicas que comprovem todas estas propriedades! Alguns estudos sugerem que diversas pessoas que utilizaram o kambô sentiram alguma melhora em problemas como reumatismo, alergias, dores musculares e gastrite. Há também uma recomendação para o intervalo entre as aplicações e um número máximo de três aplicações.


Mas há riscos é claro, quais são eles?

Um dos maiores fatores de risco é a própria dispersão do kambô, pois ao ser levado para centros urbanos nem sempre é aplicado por alguém capacitado para isto. Os erros de aplicação são possivelmente fatais, especialmente se for aplicada a toxina de outros anuros (p.ex. sapo-cururu, Rhinella sp.). A falta de conhecimento técnico e teórico, além da falta de preparo para realizar uma possível análise do paciente que está buscando tratamento também é outro fator de risco. Além disso, o tráfico ilegal de indivíduos de P. Bicolor e da toxina em si pode ser um grande problema ecológico e legal. A causa da difusão desse conhecimento foi a apropriação e uso desses conhecimentos pelos seringueiros que vivem na região amazônica, que foram passando adiante de maneira indiscriminada.


Referências

LIMA, E. C. & LABATE, Beatriz C. 2007 “Remédio da Ciência” e “Remédio da Alma”: os usos da secreção do kambô (Phyllomedusa bicolor) nas cidades. 20 p. (neste artigo eu não consegui encontrar os dados de local e editora)

SILVA, F. V. A. & MONTEIRO WUELTON MARCELO & BERNARDE, P. S. 2019. “Kambô” frog (Phyllomedusa bicolor): use in folk medicine and potential health risks, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2 p.

P. S. Bernarde & R. A. Santos. 2009. Utilização medicinal da secreção (“vacina-do-sapo”) do anfíbio kambô (Phyllomedusa bicolor) (Anura: Hylidae) por população não-indígena em Espigão do Oeste, Rondônia, Brasil. 8 p.


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