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VOCALIZAÇÃO EM QUELÔNIOS

Texto: Katarine N. Norbertino


Quando falamos em quelônios, nos referimos aos animais popularmente conhecidos como: tartarugas, jabutis e cágados. A principal característica desse grupo, é o fato da caixa torácica e da coluna vertebral encontrarem-se modificadas em um estrutura externa, conhecida como casco, que é composto pela junção da carapaça (região dorsal) com o plastrão (região ventral). Esse grupo apresenta indivíduos com diferentes hábitos de vida, os quais podem ser terrestres, semi-aquáticos ou aquáticos.


Mas já parou pra se perguntar como ocorre a comunicação entre quelônios? Ou se ocorre o mesmo tipo de comunicação para ambientes terrestres e aquáticos?

Imagem 1. Podocnemis expansa registrada em Comodoro, Mato Grosso. Fonte: Thiago Silva-Soares.


A comunicação entre os quelônios pode ocorrer por variadas vias, sendo elas: olfativa, sonora e visual. Sendo as situações de corte, cópula e resposta agonística (em relação a uma possível ameaça), nas quais já foram registradas algum tipo de comunicação.


Dessa maneira, no trabalho de Ferrara (2012), foi possível descrever o repertório vocal de Podocnemis expansa, popularmente conhecida como Tartaruga-da-amazônia, um dos maiores quelônios dulcícolas brasileiros. A autora pôde descrever os aspectos desse tipo de comunicação em termos de estrutura do canto, situações específicas nas quais ocorria e, ainda, a morfologia do aparelho auditivo dos filhotes (para melhor entendimento sobre como ocorre a recepção do sinal acústico).


Ferrara (2012) identificou os cantos tanto em filhotes quanto em adultos, totalizando 11 tipos de sons diferentes que foram captados dentro e/ou fora d’água. As situações nas quais P. expansa vocalizou foram durante a desova, migração, espera dos filhotes (que se trata da aglomeração das tartarugas no leito d'água no entorno dos locais de desova), assoalhamento (esse que se refere à saída da água para termorregulação cerca de um mês antes da oviposição) e “noite sem desova” que é quando as tartarugas se reúnem, sem que haja a desova, próximas ao local de oviposição.

Imagem 2. Ovos depositados por Podocnemis expansa, em Comodoro, Mato Grosso. Fonte: Thiago Silva-Soares.


Um fato curioso é que além dos filhotes emitirem sons durante a eclosão, na saída do ninho e no período em que alcançariam a água, há, também, a emissão de sons por parte dos embriões horas antes da eclosão dos ovos. Sendo essas informações registradas por Monteiro (2019) ao estudar a bioacústica de ninhos de Eretmochelys imbricata. Assim, é válido ressaltar que a vocalização pode ser crucial para sincronizar a saída do ninho e, dessa maneira, diminuir a taxa de predação.


Contudo, tendo em vista a importância da comunicação sonora para os quelônios, faz-se necessário enfatizar como as ações antrópicas podem afetar a ecologia desses animais. Sendo tal impacto marcado, especialmente, pela poluição sonora gerada por ruídos dos motores de embarcações, dentre outros sons cuja frequência sobrepõe e impossibilita a recepção dos sinais emitidos dentro da espécie.


REFERÊNCIAS

CAMPBELL, H. W.; Evans, W. E. Sound production in two species of tortoises. Herpetologica, v. 23, p. 204-209, 1967.

FERRARA, C. R. Comunicação acústica de tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa (Schweigger, 1812), Testudines: Podocnemididae) na Reserva Biológica do Rio Trombetas, Pará, Brasil. 109 f. 2012. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Programa Integrado de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA. Manaus, Amazônia, 2012.

MONTEIRO, C. C. Atividade bioacústica em ninhos de Eretmochelys imbricata (LINNAEUS, 1766) na Barreira do Inferno - RN. 117 f. 2019. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) - Centro de Biociências, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –UFRN, Natal, Rio Grande do Norte, 2019.

SILVA, R. M. T. Comunicação química em quelônios dulcícolas: reconhecimento específico e possíveis impactos de uma espécie invasora. 40 f. 2020. Dissertação (Mestre Profissional em Conservação da Fauna) - Programa de Pós Graduação em Conservação da Fauna, da Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, São Paulo, 2020.

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