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TRATADO DOS CROCODILIANOS DO BRASIL

Texto: Gabriel Falquetto de Oliveira


O Brasil é o país mais biodiverso quando o assunto são os crocodilianos, com seis espécies vivendo em nosso território, o que representa cerca de 25% de toda riqueza na Terra. Apesar disso, esses animais vêm sofrendo cada vez mais com a supressão de seus habitats, visto que a expansão rural, urbana e de empreendimentos, como hidrelétricas, linhas de transmissão, canalização de rios e represamentos para fins industriais em áreas que originalmente os jacarés habitam, tem crescido muito nos últimos anos (FILOGONIO et al., 2010).


Pensando nisso, diversas iniciativas têm sido desenvolvidas para tentar acabar com o declínio de algumas populações. O desenvolvimento de projetos de conscientização ambiental e também projetos de pesquisa, permite entender um pouco mais da ecologia desses animais, para que assim sejam traçadas estratégias eficientes e otimizar ações de conservação. Uma dessas iniciativas em terras capixabas é o Projeto Caiman, do Instituto Marcos Daniel (IMD), que possui o objetivo de gerar dados técnicos-científicos de saúde e ecologia da espécie Caiman latirostris (o jacaré-do-papo-amarelo) em todo o Brasil.


Com isso, o IMD teve a iniciativa de produzir uma obra que reunisse grande parte do conhecimento sobre os crocodilianos, sem que os leitores precisassem recorrer a bibliografias dispersas, e nem pagar para ter acesso a elas. Assim, foi lançado de forma gratuita, acessível e, sem dúvida, a maior obra já feita neste contexto: O tratado dos Crocodilianos do Brasil.


Figura 1: Capa do Tratado dos Crocodilianos do Brasil. Espécie da imagem: Caiman yacaré.

Foto: Leonardo Merçom/Instituto Últimos Refúgios, Corumbá -MS, 2017.


Força tarefa


“O Tratado de Crocodilianos do Brasil foi uma verdadeira força tarefa: A obra contou com a participação de 69 especialistas de diferentes formações, entre eles biólogos (zoólogos e ecólogos), veterinários, zootecnistas e engenheiros ambientais e seus respectivos ambientes.”


“A obra está organizada em seis eixos temáticos, contemplando aspectos fundamentais para compreensão da evolução e história de vida dos crocodilianos. Inicialmente, são abordadas questões relativas à paleontologia, sistemática e taxonomia (Tema 1), evidenciando a complexidade envolvida na definição precisa da riqueza de espécies e do papel das linhagens crípticas dentro das diferentes espécies brasileiras.


O eixo temático subsequente trata dos métodos aplicados aos estudos ecológicos e comportamentais dos crocodilianos (Tema 02), incluindo a apresentação de técnicas de modelagem de distribuição e suas potenciais aplicações.


Atualmente, não somente no Brasil, mas também em nível internacional, umas das estratégias de conservação dos estoques genéticos de crocodilianos tem sido associada ao uso comercial sustentado (Tema 3). Trata-se de um assunto polêmico, que ainda suscita discussões expostas, em que são apresentados argumentos a favor e contra a aplicação de tal estratégia.


Em seguida, a medicina veterinária aplicada à avaliação da condição corporal e da saúde dos crocodilianos é um dos temas mais elaborados no tratado (Tema 04). Nesta seção são abordados aspectos clínicos, patológicos, parasitológicos e histológicos, contemplando as suas aplicações, além da própria conservação e do manejo das espécies.


Não há dúvidas que a prática da conservação associada aos esforços de pesquisas e da difusão de conhecimentos promovidos a partir de iniciativas de educação ambiental, valorização de cultura tradicional, e dos saberes etnozoológicos. Em uma sequência estratégica, estes temas são abordados sob a perspectiva histórica no Brasil e no mundo, narrando ricas experiências acumuladas, considerando os crocodilianos brasileiros como pontos focais, em especial, por pesquisas realizadas no âmbito de projetos de jacarés da Mata Atlântica nos estados do Espírito Santo e Pernambuco (Tema 5).


O tratado é finalizado com a exposição do panorama atual das pesquisas aplicadas à conservação, conduzidas nas cinco regiões brasileiras (Tema 6) - Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, assinado pelos respectivos locais.”


Pra finalizar


Sem dúvidas, a obra é um grande marco na história da ciência dos crocodilianos no Brasil e no mundo, é um legado deixado por vários especialistas em atividade para os atuais cientistas e também para os que estão por vir. Uma obra que será intensivamente utilizada na luta para conservação desses animais incríveis! Já estamos ansiosos para o volume 02 desse trabalho incrível. Nosso muito obrigado por proporcionar ciência de forma tão ampla, gratuita e democrática!


REFERÊNCIAS


Filogonio, R.; Assis, V. B.; Passos, L. F.; Coutinho, M. E. Distribution of populations of broad-snouted caiman (Caiman latirostris, Daudin 1802, Alligatoridae) in the São Francisco River basin, Brazil. Brazilian Journal of Biology, v. 70, p. 961-968. 2010.


Barreto-Lima, A. F.; Santos, M. R. D.; Nóbrega, Y. C. Tratado de Crocodilianos do Brasil.Vitória: Instituto Marcos Daniel, 2021.

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