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TARTARUGAS MARINHAS E O AQUECIMENTO GLOBAL: QUAL A RELAÇÃO?

Texto: Bárbara Santos Teixeira Costa


O aquecimento global vem causando diversos estragos em nossos ecossistemas, e ainda causará muito mais se nada for feito. Mas você sabe como ele afeta as tartarugas marinhas? Não? Então venha com a gente!


Figura 1: Filhote de tartaruga da espécie Caretta caretta (Tartaruga-cabeçuda), uma das espécies que desovam nas praias do Espírito Santo. Autoria: Bárbara Santos Teixeira Costa (Instagram - @bio.barbara)


Postura de ovos


Para entendermos o problema, precisamos compreender como as tartarugas marinhas são formadas. Algum tempo após a fecundação, a fêmea parte para a criação de um ninho, elas sobem à praia ao anoitecer, onde escolhe um trecho da praia para construir seus ninhos e desovarem. Elas cavam na areia com as nadadeiras posteriores um buraco com cerca de meio metro de profundidade, fazendo a desova e ao final cobrem o ninho com areia, e retornam para o mar.


Incubação


O desenvolvimento dos embriões ocorre de acordo com a temperatura da areia, onde esta é uma determinante para o sexo dos filhotes: com uma temperatura abaixo de 29º C, nascem mais machos e com uma temperatura acima de 30º C aproximadamente, nascem mais fêmeas. Entre ambas as temperaturas ocorre a chamada temperatura pivotal, que gera uma quantidade igual de machos e fêmeas, variando de espécie para espécie.


Isso acontece pois, geralmente durante o segundo terço da incubação, as gônadas das tartarugas se diferenciam a partir de uma enzima chamada aromatase, capaz de converter hormônios andrógenos (que geram as características masculinas) em hormônios estrogênicos (que desenvolvem características femininas). Essa enzima só é produzida em altas temperaturas, então caso ela seja produzida o embrião será fêmea e terá ovários, caso contrário, o embrião será macho e terá testículos.


Aquecimento global


É certo que as ações humanas estão contribuindo para o aumento da temperatura de nosso planeta, e podemos ver isso com o fenômeno do aquecimento global. Mas o que as tartarugas marinhas têm a ver com isso? Com o aumento da temperatura, nascerão mais fêmeas do que machos. Em um estudo feito nas praias da Grande Barreira de Corais da Austrália, foi descoberto que, na parte norte da Grande Barreira de Corais, 99,1% dos filhotes de tartaruga de Chelonya midas (Tartaruga-verde) eram fêmeas, o que é um número absurdamente grande de fêmeas.


Além disso, em um estudo feito pela Universidade de Swansea (Reino Unido), foi estimado que no ano de 2013 as praias com areias mais claras produziam 70,10% de fêmeas enquanto que as praias de areias mais escuras produziam 93,46% de fêmeas. Já para o ano de 2100, foi estimado que as praias de areia mais clara irão produzir cerca de 97,80% de fêmeas e as praias de areias mais escuras produzirão aproximadamente 99,54% de fêmeas. Isso acontece, pois a areia escura absorve mais calor do que a areia clara, gerando mais fêmeas.


E você sabe o que pode acontecer com o equilíbrio das tartarugas marinhas, com esse nascimento exagerado de fêmeas? Bom, de acordo com o autor do estudo anterior à curto prazo isso não será tão ruim, pois com mais fêmeas, há mais ovos e mais filhotes. Mas à longo prazo isso será péssimo, pois não haverá machos o suficiente para fecundar tantas fêmeas, o que pode causar um desequilíbrio tão grande que poderá acarretar na extinção das tartarugas marinhas.


Redução de danos e considerações finais


E o que pode ser feito para isso ser evitado? Além da solução mais óbvia, a de tentar amenizar o aquecimento global, também estão sendo estudadas alternativas para atenuar a situação. Como por exemplo, em um estudo no Caribe também produzido pela Universidade de Swansea onde os pesquisadores constataram que o sombreamento artificial dos ninhos e a realocação deles podem diminuir drasticamente a proporção de fêmeas, o que seria uma estratégia de conservação muito eficaz, de baixo custo e de baixa tecnologia. Outra medida que pode ser feita é uma intensificação na preservação das praias com areias claras, visto que sua areia possui uma temperatura menor.


Então, de todo ainda há esperanças para animais tão incríveis como as tartarugas marinhas, mas para que isso aconteça, precisamos correr contra o tempo – e rápido!


Referências


GALILEU. Aquecimento global faz com que maioria das tartarugas-marinhas seja fêmea. Galileu. 2018. Disponível em <https://revistagalileu.globo.com/galileu-e-o-clima/noticia/2018/12/aquecimento-global-faz-com-que-maioria-das-tartarugas-marinhas-seja-femea.html> Acesso em: 12 set. 2021.


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REIS, E. C.; GOLDBERG, D. W. Biologia, ecologia e conservação de tartarugas marinhas. In: REIS, E. C.; CURBELO-FERNANDEZ, M. P. Mamíferos, quelônios e aves: caracterização ambiental regional da Bacia de Campos, Atlântico Sudoeste. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. v. 7, p. 63-89.


SAFI, M. More sea turtles will be born female as climate warms, study shows. The Guardian. 2014. Disponível em <https://www.theguardian.com/environment/2014/may/20/more-sea-turtles-will-be-born-female-as-climate-warms-study-shows> Acesso em: 12 set. 2021.


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