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Tantilla boipiranga, a mais nova habitante do estado do Espírito Santo

Texto: Bryan da Cunha Martins


Tantilla boipiranga é uma espécie de serpente conhecida por poucos registros, até então, exclusivos do estado de Minas Gerais.


Figura 1: Tantilla boipiranga. Autoria: Dieny Santos.


Descrição


Descrita em 2003, com holótipo (indivíduo principal que serviu como base na descrição) coletado em 1995 na região da Serra do Cipó, município de Santana do Riacho, estado de Minas Gerais, Tantilla boipiranga é uma serpente de pequeno porte que pertence à família Colubridae. A palavra “colubridae” deriva do latim colubra, que exprime ideia de serpente, acrescido de idae, palavra designada por convenção (Código Internacional de Nomenclatura Zoológica) para compor o final dos nomes das famílias das espécies.


O gênero Tantilla foi descrito em 1853 é um dos mais diversos dentro da família Colubridae. Até o momento são conhecidas 67 espécies, distribuídas por todo o continente Americano, principalmente no neotrópico (América do Sul e Central + México), mas também em partes dos EUA. As espécies do gênero Tantilla são tão difíceis de serem encontradas, que muitas delas são conhecidas pelo holótipo (lembra do Holótipo?). Este fato se deve ao hábito fossorial das espécies do gênero. Falaremos disso mais à frente.


Etimologia


A palavra “Tantilla” vem do latim e significa pequeno. A palavra “boipiranga” por sua vez, tem origem na língua tupi: boi (cobra) e piranga (vermelho). Sendo assim, uma tradução literal para Tantilla boipiranga seria algo como “pequena cobra vermelha”. Faz sentido, não?!


E quanto aos nomes científicos? Eles também são importantes! Devido ao fato de não ser uma espécie tão comum de ser encontrada, existe pouca informação sobre os nomes populares. Entretanto, alguns nomes populares que podem ser conferidos a esta espécie são: falsa-coral, mata-boi, cobra-de-cabeça-preta e cobra-da-terra. Certamente estes nomes são conferidos a inúmeras outras espécies, e este é o fator limitante dos nomes populares. E outra, muitas espécies nem possuem nomes populares. Como não se bastasse, uma espécie pode ter vários nomes populares que variam para cada região. Desta forma, o nome popular não é algo 100% confiável, por isso a comunidade científica trabalha com a nomenclatura científica.

Biologia


Tantilla boipiranga é uma espécie de pequeno porte que possui hábitos fossoriais (que vive enterrado) e criptozóicos (que vive sob a serrapilheira). Sua coloração é vermelho/alaranjado com ventre branco ou creme. Possui atividade predominantemente noturna, porém, registros de atividade diurna já foram feitos. Sua reprodução é ovípara (bota ovos), entretanto, dados acerca de oviposição são escassos ou ausentes. Sua dieta é baseada em pequenos artrópodes como insetos e lacraias.


Artigo e considerações finais


Esta semana foi publicado um artigo (Azevedo e colaboradores [ver referências]) reavaliando a espécie Tantilla boipiranga. Neste trabalho, os autores avaliaram as variações morfológicas da espécie e forneceram dados atualizados da distribuição geográfica da mesma. O título desta coluna “Tantilla boipiranga, a mais nova habitante do estado do Espírito Santo” não significa que a espécie se mudou para esse estado! Brincadeiras à parte, ela sempre existiu por aqui. Acontece que, antes da publicação do artigo (acima mencionado), a comunidade científica não sabia, com certeza, se o espécime encontrado no Espírito Santo era Tantilla boipiranga, Tantilla melanocephala, ou uma nova espécie do gênero.


Talvez você, leitor, esteja se perguntando como os pesquisadores fizeram para bater o martelo neste assunto, né? Bom, foi necessário um intenso trabalho de análise molecular para descobrir a verdadeira identidade do espécime capixaba. Por meio do DNA, análises genéticas revelaram que o indivíduo capixaba é mesmo Tantilla boipiranga, ampliando a distribuição da espécie, que, como dito lá no início do texto, só ocorria no estado de Minas Gerais. Legal demais, né?


A genética está cada vez mais presente nos trabalhos de taxonomia, pois apenas dados morfológicos (diferenciar, delimitar espécies usando apenas os caracteres morfológicos da mesma) não são suficientes. Existem muitas espécies que são morfologicamente indistinguíveis. Dessa maneira, uma abordagem integrativa (usando morfologia, genética, comportamento, etc.) é a forma mais segura de delimitar (descrever) as espécies.



REFERÊNCIAS


Azevedo, W. S.; Franco, F. L.; Thomassen, H.; Castro, T. M.; Abegg, A. D.; Leite, F. F.; Battilana, J.; Grazziontin, F. G. 2021. Reassessment of Tantilla boipiranga (Serpentes: Colubrinae) and a preliminary approach to the phylogenetic affinities within Tantilla. Salamandra 57 (3): 400-412. Disponível em: https://www.salamandra-journal.com/index.php/home/contents/2021-vol-57/2053-azevedo-w-s-f-l-franco-h-thomassen-t-m-castro-a-d-abegg-f-s-f-leite-j-battilana-f-g-grazziotin-1/file. Acesso em: 17 de agosto de 2021.


Sawaya, R.J.; Sazima, I. 2003. A new species of Tantilla (serpentes: colubridae) from southeastern Brazil. Herpetologica 59: 119–126. Disponível em: https://ecoevo.com.br/publicacoes/pesquisadores/ricardo_sawaya/Tantillaboipiranga_2003.pdf. Acesso em: 17 de agosto de 2021.


Tunes, P.H.; França, A.T.R.C.; Mol, R.M. 2020. distribution extension of the black-headed snake tantilla boipiranga sawaya & sazima, 2003 in the state of Minas Gerais, brazil. Oecolgia Australis 24: 943–948. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/oa/article/view/943/21734. Acesso em: 17 de agosto de 2021.



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