Texto: Katarine N. Norbertino
Quando se fala sobre dieta de anuros, os itens alimentares mais presentes são, na maioria das vezes, os artrópodes (aracnídeos, insetos, dentre outros). Mas vocês já ouviram falar da presença de pequenos vertebrados na dieta dos anuros? De fato, isso não é esperado em uma rã cujo tamanho seja pequeno (menos de 20 milímetros), mas vindo daqueles sapos considerados “grandes” essa ideia se torna mais aceitável.
Figura 1 - Ceratophrys joazeirensis. Fonte: Jaqueiuto Jorge (2015, p. 151).
Esse fenômeno incrível ocorre na família Ceratophryidae, considerada como um grupo de sapos predadores vorazes. Atualmente, essa família possui ampla distribuição na América do Sul, com 12 espécies distribuídas nos gêneros Ceratophrys, Chacophrys e Lepidobatrachus. Seus representantes se caracterizam por apresentarem pele granulosa (revelando a presença de muitas glândulas), membros locomotores curtos e cabeças grandes. Algumas espécies também possuem protuberâncias nas pálpebras, característica que confere ao grupo o carinhoso nome de “sapo-de-chifres”.
E não é à toa que esses bichos recebem o adjetivo de vorazes! Há diversos artigos que relatam a presença de variados vertebrados no estômago desses animais. Quando analisaram a dieta de Ceratophrys joazeirensis, Jorge e colaboradores (2015) descobriram que cerca de 68% das presas eram outros anfíbios anuros. Já Duellman e Lizana (1994) encontraram não só anuros, como ratos, lagartos e até mesmo serpentes na dieta de Ceratophrys cornuta (parece que o jogo virou, não é mesmo?). Mas calma lá, os “sapos-de-chifre” não vivem apenas de vertebrados. Eles também consomem aranhas, gastrópodes, ortópteros, besouros, caranguejos e muitos outros invertebrados.
De forma geral, o método de forragear dos anuros trata-se do “senta-e-espera”, no qual esses bichos aguardam, imóveis, pela aproximação de uma possível presa. Quando a presa se encontra relativamente próxima, eles a pegam e a engolem (já que sapos não mastigam). A possível explicação para a dieta “incomum” relatada para essas espécies do gênero Ceratophrys está relacionada ao tamanho da boca, do corpo, e também à abundância desses alimentos no local em que tais espécies ocorrem.
Além da Família Ceratophryidae, cientistas já identificaram a predação de vertebrados em outras famílias de anuros. Dessa forma, fica claro quão diversa é a dieta desses animais fantásticos e, consequentemente, o quão importantes os anuros são para o meio ambiente.
REFERÊNCIAS
DUELLMAN, W. E. & LIZANA M. Biology of a sit and wait predator, the leptodactylid frog Ceratophryscornuta. Herpetologica, v. 50, n. 1, p. 51–64.1994.
GUIMARÃES, S. O.; WOITOVICZ-CARDOSO, M. Batrachophagy in Boana semilineata (Spix, 1824)(Anura: Hylidae). Herpetology Notes, v. 14, p. 95-97, 2021.
JORGE, J. S. et al. On the natural history of the Caatinga Horned Frog, Ceratophrys joazeirensis (Anura: Ceratophryidae), a poorly known species of northeastern Brazil. Phyllomedusa, v. 14, n. 2, p. 147-156. 2015. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/phyllo/article/view/109482/107959>
MEASEY, G. J. et al. Frog eat frog: exploring variables influencing anurophagy. PeerJ, v. 3, p. 1-16, 2015.
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