Texto: Izadora Silveira
O que tem na sua pele?
Sabia que neste exato momento você pode ter pedaços de testículo de castor, cervo ou rato em sua pele? Pois é, este é o famoso almíscar, “musk”, um dos componentes muito comuns nos perfumes. A queratina que dá aquele brilho incrível? Ossos de animais. O ácido hialurônico utilizado em preenchimento labial? É de crista de galo. Quantos desses produtos nós já utilizamos? Imagine só lá nos anos 50...
Os testes em animais
Para todo produto que utilizamos é necessária uma análise da composição, desde os cosméticos aos produtos de limpeza. E como isso é feito? Quando o que fala mais alto é a economia, animais como coelhos e ratos são amarrados e presos em caixas. Neste momento é colocada uma quantidade do produto nos olhos dos animais, que são mantidos abertos, para avaliar qual a quantidade necessária para deixá-lo cego ou gerar alguma inflamação. E este é apenas um exemplo...
Bom, e quanto aos sapinhos?
Um dia, o zoólogo Lancelot Hogben, que já tinha o costume de injetar hormônios em animais para ver como reagiam, teve uma ideia: injetar a urina de uma mulher supostamente grávida em um anuro. Ele começou com aquele sapo comum, do gênero Rhinella. (Fig. 1). Mas logo começou a utilizar a rã-de-unhas-africana (Xenopus laevis), pois ela se reproduzia mais rápido (Fig. 2).
Figura 1: Espécime do gênero Rhinella. Fonte: Wikimedia.
Figura 2: Indivíduo da espécie Xenopus laevis. Fonte: Brian Gratwicke.
Se a rã fêmea ovulasse após um dia, era certo que a mulher estava grávida. Mas por que isso acontece? Bom, a urina da mulher grávida é rica em HCG (hormônio gonadotrofina coriônica) e este hormônio influenciava a ovulação dos sapos.
Mas e aí? Em 1947 (nem faz tanto tempo assim, né?) surgiu o Teste de Galli-Mainini, um médico endocrinologista argentino. Onde ocorria aquele mesmo processo, mas em sapos machos e se o resultado fosse positivo, a urina dos animais conteria espermatozoides, também por causa do hormônio citado (Fig. 3).
Figura 3: Espermatozoides de anuros. Fonte: Karlla Patrícia.
Quais são as alternativas?
Atualmente temos inúmeras alternativas para evitar a exploração animal, já que realizar todo aquele processo, incentivou bastante a caça desses animais... Por exemplo, hoje temos o teste de gravidez de farmácia (ufa!), bem mais acessível e com resultado rápido, não precisando explorar os animais!
E com relação aos testes em animais, podemos criar tecidos artificialmente para estudo, utilizar bactérias para detectar mutações genéticas e ainda, microarranjo* de DNA para avaliar padrões de mudanças genéticas. A tecnologia não é incrível? Enfim, é sempre bom dar uma olhada no rótulo dos produtos que você compra!. Pode ter certeza que para estes animais vai fazer muita diferença!
*Microarranjo de DNA ou Chip de DNA é uma coleção de pontos microscópicos, usualmente preenchidos com DNA, que contém sondas para determinadas moléculas-alvo produzindo resultados quantitativos, como expressão gênica. Fonte: Wikipédia (2019).
Referências
Fleury Medicina e Saúde. Diagnóstico de gravidez: no início, sapos anunciavam a chegada de príncipes e princesas. 8 ed. São Paulo: 2006. Disponível em: <http://www.fleury.com.br/medicos/educacao-medica/revista-medica/materias/Pages/diagnostico-de-gravidez-no-inicio-sapos-anunciavam-a-chegada-de-principes-e-princesas.aspx> Acesso em: 3 de outubro de 2019.
Gratwicke, Brian. Disponível em: <https://www.theatlantic.com/science/archive/2017/05/how-a-frog-became-the-first-mainstream-pregnancy-test/525285/>Acesso em: 3 de outubro de 2019.
Paixão, Rita Leal. Experimentação animal: razões e emoções para uma ética. 2001. 206 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2001.
Patrícia, Karlla. 2010. Na década de 50, a urina das supostas grávidas eram injetadas nos sapos machos para fazer testes de gravidez . Era um procedimento laboratorial! Disponível em: <https://diariodebiologia.com/2010/07/na-decada-de-50-os-testes-de-gravidez-eram-feitos-com-sapos> Acesso em: 3 de outubro de 2019.
Wikimedia. 2005. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bufo_alvarius1.jpg> Acesso em: 3 de outubro de 2019.
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