Texto: Carolayne Santino da Silva
Imagem 1 - Macho da espécie Dendropsophus rubicundulus. Note o saco vocal inflado devido às vibrações sonoras da vocalização. Foto: Tiago Silva-Soares.
Desde crianças estamos acostumados a ouvir os mais diversos sons que são produzidos pelos animais. Da mesma forma, torna-se natural associar a esses sons os motivos que podem promovê-los. Por exemplo, quando ouvimos um latido, usualmente o associamos a alguma causa pela qual o cachorro latiu, e assim acontece com outros animais, tanto os de convivência doméstica quanto os selvagens. Com os anfíbios não é diferente. Toda “cantoria” que ouvimos nos brejos, lagos ou banhados, tem não só um, mas alguns motivos específicos. Vamos conhecer?
Diferente do que dizem na cantiga de roda, os sapos cantam mas não porque estão com frio. Pois é! O canto do sapo, na verdade, chama-se vocalização e existem diferentes tipos dos quais são classificados segundo o tipo de comportamento do animal. Aqui, vamos focar somente nos três tipos de cantos mais comuns. Ah, e uma curiosidade é que as fêmeas dos anuros raramente vocalizam. Até existem em algumas espécies fêmeas que cantam, mas esta função está mais associada aos machos. Um exemplo de fêmea que vocaliza é a da espécie Limnonectes palavanensis. Os pesquisadores descobriram que as fêmeas desta espécie não apenas respondem ao canto de anúncio dos machos como também podem vocalizar espontaneamente para um único macho.
Canto de anúncio:
É o tipo de canto mais comum. Quando chega a época reprodutiva dos anuros, os machos cantam para atrair as fêmeas disponíveis, ou seja, estão anunciando para as fêmeas que estão em busca de uma parceira para reproduzir. Este canto é muito importante pois, além de anunciar o período reprodutivo, o canto de anúncio é uma maneira de informar para as fêmeas características dos machos, como: tamanho, porte físico, aptidão para reprodução, entre outras. Dessa forma, a fêmea vai ao encontro do macho que mais lhe “atraiu”, de acordo com as informações passadas por meio da vocalização.
Imagem - 2 Macho de Bokermannohyla saxicola vocalizando em corpo d'água corrente. Foto: Tiago Silva-Soares.
Canto de soltura:
Este canto acontece quando um macho de anuro faz a posição de amplexo (abraço) em outro macho, ou seja, quando um macho fica sobre o outro. Sendo assim, o macho que está embaixo faz o canto de soltura para indicar que não é uma fêmea, desta forma ele sinaliza para que o outro anuro saia de cima.
Canto agonístico:
Como o nome sugere, este canto é emitido quando o anuro passa por uma situação de agonia, como por exemplo, ser pego por um predador. Imagine que você é um sapo e foi predado por uma serpente. Sua vocalização seria como um pedido de socorro, certo? Pois então, este é o canto agonístico. Os anuros emitem um som agudo para sinalizar que foram predados, mas também funciona como um grito de “Me solta, por favor! Eu não quero ser comido vivo!”
Imagem 3 - Macho de Dendropsophus elegans vocalizando. Foto: Tiago Silva-Soares.
E então, gostaram de saber o por que os sapos cantam? E já sabiam que as fêmeas dos anuros raramente emitem vocalização?
Referências
FERRANTE, Lucas; VEIGA, Carina. A visão etnoecológica que jovens em formação escolar têm sobre os anfíbios e a importância da Educação para conservação destes animais Ambiental. Ethnoscientia, [s. l], v. 4, p. 1-8, 11 maio de 2019.
INSTITUTO RÃ-BUGIO PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Anfíbios. Jaraguá do sul, 2022. Disponível em: http://www.ra-bugio.org.br/anfibios_sobre_03.php#:~:text=O%20objetivo%20do%20coaxar%20%C3%A9,coaxar%20ou%20estar%20muito%20pr%C3%B3ximo. Acesso em: 01 jun. 2022.
TANDEL, M.C. F. F. et al. Diferenciação de 3 tipos de vocalizações (cantos) na espécie Brachycephalus pitanga. Revista da Estatística Ufop, v. 3, n. 3, p. 374-386, 2014.
VALLEJOS, Johana Goyes; GRAFE, T. Ulmar; SAH, Hanyrol H. Ahmad; WELLS, Kentwood D.. Calling behavior of males and females of a Bornean frog with male parental care and possible sex-role reversal. Behavioral Ecology And Sociobiology, [S.L.], v. 71, n. 6, p. 71-95, 19 maio 2017. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/s00265-017-2323-3.
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