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PERERECAS MARSUPIAIS

Texto: Bárbara Santos Teixeira Costa


Quando você pensa em algum animal carregando sua própria cria, talvez você pense em cangurus ou até mesmo em gambás. Mas você sabia que alguns anfíbios são conhecidos por carregarem sua prole nas próprias costas numa espécie de “bolsa”, assim como os marsupiais?! Venha com a gente e descubra!


Figura 1: Fritziana goeldii carregando seus ovos no dorso, sobre uma folha de bromélia, encontrada na Floresta da Tijuca – Rio de Janeiro. Autoria: Thiago Silva-Soares – Instagram: @thiagobiotrips

Os anfíbios são animais que habitam tanto o ambiente aquático quanto o terrestre, fato que explica a sua diversidade de modos reprodutivos. De acordo com Nunes-de-Almeida (2021), são conhecidos 74 modos reprodutivos diferentes, o que é um número muito superior ao modo reprodutivo de outros vertebrados, como mamíferos e répteis, por exemplo.


Dessa forma, uma das maneiras mais fascinantes de reprodução entre os anfíbios é o ato de carregar sua prole em seu próprio dorso. Esse modo reprodutivo foi descrito pela primeira vez no século XVIII, pela cientista Maria Sibylla Merian, que observou um anuro metamorfo emergindo do dorso de uma fêmea (Schulte, 2020), o que ficou conhecido com o o primeiro registro de cuidado parental entre anfíbios.


Figura 2: A espécie Pipa pipa em um corpo aquático, fotografada no estado de Rondônia. Autoria: Renato Gaiga - Instagram: @renatogaiga, @biotropica

A espécie observada foi uma fêmea de Pipa pipa, conhecida popularmente por sapo-pipa, e sua descrição mais tarde foi confirmada por Carl von Linné (Schulte, 2020). Nessa espécie, que vive em meio aquático, a fêmea carrega os ovos no dorso e após um período de incubação os filhotes eclodem de seu dorso sem que haja uma metamorfose, ou seja, sem que passem por uma fase larval de girino (Nunes-de-Almeida, 2021).


Posteriormente, diversas espécies de anfíbios foram registradas contendo algum traço de cuidado parental. E chegamos às pererecas-marsupiais, que ao contrário do sapo-pipa, não colocam seus ovos no próprio dorso, mas apresentam uma dobra no dorso que poderia ser considerada uma “bolsa”, e por esse motivo são chamadas popularmente de pererecas-marsupiais. As pererecas-marsupiais pertencem à família Hemiphractidae Peters, 1862, composta por seis gêneros e um total de 119 espécies (Frost, 2022).


De acordo com Folly (2018), dentro da família Hemiphractidae os ovos podem ser carregados de três maneiras distintas, em diferentes tipos de desenvolvimento: expostos no dorso, emergindo completamente formados, como ocorre nos gêneros Cryptobatrachus, Hemiphractus e Stefania; carregados em uma bolsa no dorso com abertura posterior, com os filhotes eclodindo em girinos ou em anfíbios jovens, o que ocorre no gênero Gastrotheca; ou por fim, podem ser carregados em uma bolsa com duas dobras longitudinais na pele do dorso com os girinos eclodindo em estágios avançados de desenvolvimento, como ocorre nos gêneros Flectonotus e Fritziana.


Ou seja, em todos os gêneros da família citada há ocorrência de cuidado parental, com os anfíbios carregando seus ovos no dorso, porém, apenas nos gêneros Gastrotheca, Flectonotus e Fritiziana podemos observar a presença da “bolsa” no dorso (Weygoldt, 1991), sendo consideradas “verdadeiras” pererecas-marsupiais!


Agora que você possui essas informações em mãos, não podemos deixar de notar que os anfíbios são animais fantásticos, não é mesmo?! Conta pra gente se já viu um desses anfíbios carregando seus ovos por aí!

Referências


FOLLY, M.; HEPP, F.; CARVALHO-E-SILVA, S. P. A new bromeligenous species of Fritziana Mello-Leitão, 1937 (Amphibia: Anura: Hemiphractidae) from high elevations in the Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro, Brazil. Herpetologica, v. 74, n. 1, p. 58-72. 2018.

FROST, D. Hemiphractidae Peters, 1862. Amphibian Species of the World. 2022. Disponível em: <https://amphibiansoftheworld.amnh.org/Amphibia/Anura/Hemiphractidae> Acesso em 03 fev. 2022.

NUNES-DE-ALMEIDA, C. H. L.; HADDAD, C. F. B.; TOLEDO, L. F. A revised classification of the amphibian reproductive modes. SALAMANDRA, v. 57, n. 3, p. 413-427. 2021.

PETERS, W. C. H. Über die Batrachier-Gattung Hemiphractus. Monatsberichte der Königlichen Preussische Akademie des Wissenschaften zu Berlin, p. 144-152. 1862.

SCHULTE, L. M. et al. Developments in amphibian parental care research: history, present advances, and future perspectives. Herpetological Monographs, v. 34, n. 1, p. 71-97. 2020.

WEYGOLDT, P; E SILVA, S. P. C. Observations on mating, oviposition, egg sac formation and development in the egg-brooding frog, Fritziana goeldii. Amphibia-Reptilia, v. 12, n. 1, p. 67-80. 1991.


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