Texto: Katarine N. Norbertino
Já ouviu falar da perereca leiteira? Pois então, esse é o nome popular de Trachycephalus mesophaeus, uma perereca descrita por Hensel em 1867, pertencente à família Hylidae. A espécie ocorre ao longo de quase toda a Mata Atlântica brasileira, do estado de Alagoas até o Rio Grande do Sul e, também, no interior de Minas Gerais. Além de serem arborícolas, seus representantes também ocupam bromélias e, ainda, se reproduzem em ambientes aquosos (brejos, lagos e poças).
Esse simpático anuro possui em média, cerca de sete centímetros e um padrão de coloração dorsal variável entre bege e marrom, marcado pela presença de uma faixa amarela que perpassa ao longo de toda a lateral do corpo, sendo contornada por uma listra escura (essa última ainda alcança os olhos).
Figura 1.Trachycephalus mesophaeus com padrão de coloração bege e marrom repousando sobre tronco de árvore. Fonte: Thiago Silva-Soares.
Mas será que essa perereca de fato produz leite? Tendo em vista que, leite é uma substância alimentar constituída por, principalmente, lactose e proteínas produzidas por glândulas mamárias, podemos dizer que NÃO: a T. mesophaeus não produz leite! Todavia, essa perereca secreta uma substância branca e pastosa ao longo de seu dorso e que, devido a essas características, ganhou o cunho popular de “leite”.
De forma geral, os anfíbios anuros possuem glândulas dispersas ao longo do seu tegumento. As glândulas mucosas (localizadas em diversas partes do corpo) são responsáveis por produzir o muco que mantém umedecida a pele, enquanto que as glândulas granulosas (localizadas principalmente nas regiões dorsais) são responsáveis pela produção de toxinas que lhes confere proteção química contra patógenos e predadores.
Silva (2020) constatou que em T. mesophaeus, há uma presença muito grande de glândulas granulosas em comparação a outros anfíbios, contudo, a mesma autora ainda afirma que a alta taxa de secreção de determinada espécie pode ocorrer em virtude de diversos fatores associados (referentes à fisiologia, características comportamentais e até mesmo relações filogenéticas).
Figura 2. Trachycephalus mesophaeus com padrão de coloração amarelado em repouso sobre vegetação. Fonte: Thiago Silva-Soares.
Um fato interessante são as características da substância secretada no tegumento de T. mesophaeus que, além de ser pastosa e esbranquiçada, também apresenta uma textura de cola. Entretanto, ainda não há na literatura científica nenhum trabalho que relata quais peptídeos ou grupos funcionais orgânicos encontram-se presentes nesse “leite”, de tal forma que torna-se inviável determinar qual efeito desse composto em outros organismos que, porventura, venham a interagir com esse anfíbio.
REFERÊNCIAS
FROST, D. R. Amphibian Species of the World: an Online Reference. Version 6.0 (08, jan. de 2022). American Museum of Natural History, New York, USA, 2021. Disponível em: http://research.amnh.org/herpetology/amphibia/index.html. Acesso em: 08 jan. 2022.
MAGESKI, M.; COUTINHO, H.; CLEMENTE-CARVALHO, R. B. Distribuição espacial e seleção de hábitat por anfíbios anuros em Mata Atlântica sobre a formação Barreiras no sudeste do Brasil. Natureza online, v. 12, p. 230-234, 2014.
SANTANA, D. O. et al. New records of Trachycephalus mesophaeus (Hensel, 1867) (Anura: Hylidae) from Atlantic Forest in Sergipe state, Brazil. Herpetology Notes, v. 9, p. 255-260, 2016.
SILVA, L. V. V. A atividade secretória cutânea em pererecas: uma abordagem morfológica. 49 f. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Animais de Interesse em Saúde) – Secretaria de Estado da Saúde, Centro de Formação de Recursos Humanos para o SUS/SP, São Paulo, SP. 2020.
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