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OS PERIGOS DO RANAVÍRUS

Texto: Bárbara Santos Teixeira Costa


Assim como nós humanos, os anfíbios também sofrem com doenças causadas pela nossa globalização. Doenças que seriam apenas locais são transportadas para diversas partes do mundo, até mesmo para o Brasil, causando um efeito sistêmico e avassalador. Uma delas é o ranavírus, você já ouviu falar sobre?! Então venha descobrir o que é, e o que fazer se encontrar um anuro infectado por ela!

Figura 1: Rã-touro da espécie Lithobates catesbeianus, endêmica da América do Norte. Autoria: Pedro Peloso. Instagram: @pedro_peloso.


Histórico da doença no Brasil


Assim como a quitridiomicose, doença causada pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Longcore et al., 1999), o ranavírus também foi trazido para o Brasil através da espécie invasora Lithobates catesbeianus (Shaw, 1802), conhecida como rã-touro que é originária da América do Norte. De acordo com Ruggeri et al. (2019), a rã-touro é uma das espécies mais criadas para consumo, e o Brasil é o seu maior produtor.


Tudo começou quando no início dos anos 90 ocorreu um abandono em massa das fazendas que criavam as rãs-touro, ocasionando na fuga desses animais para a natureza. Em 2011, foi descoberto por Hovermann et al. (2011) que a rã-touro poderia se infectar com o ranavírus sem demonstrar sintomas, então logo houve a suspeita de que a rã-touro poderia infectar as espécies endêmicas do Brasil com o ranavírus (Ruggeri et al., 2019).


Infelizmente foi o que aconteceu, de acordo com Ruggeri et al. (2019), em 2017 na cidade de Passo Fundo no Rio Grande do Sul, foram encontrados diversos anfíbios das famílias Bufonidae e Hylidae contaminados com o ranavírus e inclusive diversas rãs-touro mortas pelo vírus. Além disso, alguns anfíbios estavam infectados tanto com ranavírus quanto com quitridiomicose, o que é uma péssima notícia!


Efeitos

Figura 2. a: Úlcera clássica provocada pelo ranavírus, com borda branca e condição corpórea ruim. b: Lesão extensa na pata resultante de uma úlcera provocada pelo vírus. Fonte: Doenças de animais aquáticos de Importância para o Brasil e The Frog Disease Project.


O ranavírus é letal e extremamente contagioso para anfíbios, e também já foi encontrado em répteis e peixes (Miller, 2015). Nos anfíbios, é comum encontrar os infectados com hemorragias na pele e eritemas, além de ulceração e áreas cinzas descoloridas e ásperas. Entretanto, o ranavírus não é perigoso para nós humanos, e sim apenas para os animais citados.


De acordo com Miller (2015) com frequência é possível encontrar necrose e hemorragia no interior dos anfíbios infectados, e a morte celular pode ser associada a apoptose (morte celular programada) ou replicação do vírus nas células. Os casos fatais ocorrem geralmente quando o fígado, o baço e os rins são atingidos, o que pode levar a morte generalizada entre as populações de anfíbios (Miller, 2015; Todd-Thompson, 2010).


O que fazer se encontrar um anuro infectado por ele?


Caso você encontre algum anuro que possua os sintomas descritos acima, não hesite em notificar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através desse link. Isso é de extrema importância pois essa doença é de notificação obrigatória, e dessa forma as medidas necessárias podem ser tomadas a fim de impedir a disseminação da doença entre as populações. Desta maneira, podemos salvar nossos anfíbios dos problemas que nós mesmos provocamos.


Referências


CNABRASIL. DOENÇAS DE ANIMAIS AQUÁTICOS DE IMPORTÂNCIA PARA O BRASIL: Manual de identificação no campo. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/documentos-tecnicos/cartilhas-de-cna-de-sanidade-aquicola. Acesso em: 08 fev. 2022.


LONGCORE, J. E.; PESSIER, A. P.; NICHOLS, D. K. Batrachochytrium dendrobatidis gen. et sp. nov., a chytrid pathogenic to amphibians. Mycologia, v. 91, n. 2, p. 219-227. 1999.


MILLER, D. L. et al. Comparative pathology of ranaviruses and diagnostic techniques. In: GRAY, M. J.; CHINCHAR, V. G. (org.) Ranaviruses:Lethal pathogens of ectothermic vertebrates. 1 ed. Springer: Cham. p. 171-208. 2015.


RUGGERI, J. et al. Discovery of wild amphibians infected with Ranavirus in Brazil. Journal of Wildlife Diseases, v. 55, n. 4, p. 897-902. 2019.


TODD-THOMPSON, M. Seasonality, variation in species prevalence, and localized disease for Ranavirus in Cades Cove (Great Smoky Mountains National Park) amphibians. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Biologia Evolutiva) – Universidade de Tennesseee, Knoxvile. p. 43. 2010.

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