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OS ATORES DA NATUREZA

Atualizado: 6 de set. de 2019



Texto: Leticia Watanabe


Você sabia que algumas espécies de anfíbios e répteis conseguem se fingir de mortos? Não, você não leu erro! É sério!



Macho e fêmea de Micrurus surinamensis. A fêmea está realizando a simulação de morte. Fotografia: Renato Gaia.


No reino animal existem os mais diversos mecanismos de defesa que os bichos apresentam quando se sentem ameaçados. Camuflagem, mordida, arranhão, envenenamento, coloração aposemática, presença de espinhos e muitos outros. E com os nossos amados anfíbios e répteis não é diferente!


No caso dos anfíbios anuros, estes constituem uma fonte proteica muito importante para mamíferos, aves, répteis e até mesmo invertebrados (pasmem!), como as aranhas e baratas d’água.


Há falsos entre nós

Uma das táticas mais curiosas e interessantes observadas nos animais para evitar a predação é o death feigning, vulgo “fingir de morto”. Quando em contato com o possível predador, de modo geral, os membros anteriores e posteriores da presa estão soltos, e geralmente o dorso está voltado para o substrato. O sistema nervoso central manda comandos para todo o corpo da presa que então fica imóvel por alguns segundos ou até minutos, variando de espécie para espécie. Após certo tempo de fingimento, o indivíduo pode virar ventre para baixo novamente e saltar para longe.


Esse negócio de encenação ficou tão sério que, além de fazer toda a cena da morte, alguns indivíduos diminuem suas frequências respiratórias e cardíacas rapidamente. A espécie Odontophrynus americanos, ou sapo-da-enchente, consegue até colocar a língua para fora da boca, em um comportamento chamado de protrusão da língua. Quanto mais convincente, melhor!


Mestres da engabelação

O objetivo dos animais ao praticarem death feigning é fazer com que o predador perca o interesse em predá-lo por acreditar que ele está, de fato, morto. E as presas são espertas o suficiente para saberem que seus predadores são exigentes e não curtem muito uma comida estragada. Extraordinário, não acha?!


Quem diria que anfíbios e répteis são praticantes natos das artes cênicas, não é mesmo?

Porém tenha sempre em mente que é preciso cuidado nesses momentos. Caso você manuseie um anfíbio e ele comece a apresentar esse comportamento, evite tocar demais nele, dê-o espaço.


Isso porque nessas situações o animal está provavelmente passando por um estresse intenso, prejudicial ao seu bem-estar e saúde. Além do mais, quando em situações de estresse, algumas espécies, mesmo que inofensivas à primeira instância, podem liberar substâncias que irritam as mucosas humanas.



Death feigning em Proceratophrys boiei. Fotografia: Leticia Watanabe.



Referências

A mentirinha que faz bem: saiba o que é a tanatose em anfíbios. Blog do NUROF-UFC. Disponível em: <https://blogdonurof.wordpress.com/2013/08/14/a-mentirinha-que-faz-bem-saiba-o-que-e-a-tanatose-em-anfibios/>. Acesso em: 22 ago. 2019.

Borges-Leite, M. J.; Borges-Nojosa, D. M. & Morais, D. O. 2012a. Leptodactylus aff. hylaedactylus. Defensive behavior. Herpetological Review, 43(1): 122.

Ferreira, R. B., Lourenço-de-moraes, R., Zocca, C., Duca, C., Beard, K. H., & Jr, E. D. B. (2019). Antipredator mechanisms of post-metamorphic anurans : a global database and classification system. Behavioral Ecology and Sociobiology, 69, 1–21. https://doi.org/https://doi.org/10.1007/s00265-019-2680-1

Tanatose. Infoescola. Disponível em: < https://www.infoescola.com/biologia/tanatose/>. Acesso em: 22 ago. 2019.

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