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O SHOW DAS COBRAS VEADEIRAS

Atualizado: 26 de mai. de 2020



Texto: Leticia Watanabe


Conhecendo melhor essa cobra de nome curioso...

A serpente Corallus hortulana (Linnaeu, 1758) é não-peçonhenta (possui dentição áglifa), típica de florestas tropicais, seu principal hábitat, sendo encontrada em todas as regiões e biomas brasileiros, exceto no Sul do país, embora seja encontrada em outros países da América do Sul. Possui hábito arborícola, atividade noturna e dieta generalista, alimentando-se de pequenas aves, roedores, anfíbios, répteis e até morcegos! Põe generalista nisso, hein?!


Figura 1: Diferentes padrões de coloração de Corallus hortulana. A- Animal Zoo | B- Tomaz Nascimento de Melo | C- Ricardo Solar.


“Cobra veadeira”? “Suaçuboia”?? Quem é que inventa esses nomes difíceis, afinal?

Vamos lá entender isso: o seu nome popular tem origem indígena. “Boia” significa cobra e “suaçu” significa veado: daí o nome “cobra-de-veado” ou “cobra-veadeira”, pois sua cor, em geral, é semelhante à desse animal.


Linnaeus, claro, não poderia deixar de participar desse “rolê” todo. Em meados de 1758, quando estudava um indivíduo de C. hortulana, observou que ela possuía um padrão de manchas na cabeça que o lembravam de um jardim. Surgiu então, o epíteto específico hortulana, que em latim significa “jardineira”.


O que Linnaeus precedentemente observou é algo que intriga biólogos e curiosos do assunto até os dias de hoje. Essa serpente é uma verdadeira “artista” quando se trata de padrões de coloração e desenhos!


Um estudo realizado em 2015 por Duarte et al., analisou 112 espécimes de C. hortulana e correlacionou os padrões de coloração com a biogeografia em que se inseriam. Assim, foram identificados 6 tipos morfológicos de padrões cromáticos diferentes.


Mas o que quer dizer todas essas cores?

Significa que essa espécie apresenta polimorfismo cromático (isto é, vários padrões de cores)! Não se assuste com essa palavra. Em resumo, polimorfismo é uma variação fenotípica de uma dada característica, que ocorre em alguns animais e pode possuir base genética. Várias podem ser as causas dessa variação.


C. hortulana é uma das espécies de serpente com maior distribuição na América do Sul; além disso, esse policromatismo apresentado pela espécie é, também, um dos maiores entre as serpentes Neotrópicas! Existem alguns estudos que demonstram que espécies que apresentam policromatismo, isto é, diferentes morfotipos, obtiveram sucesso na colonização e exploração de novos habitats. Isso pode significar que padrões diversos de coloração podem ser vantajosos em aspectos como: evitar predação, sucesso na camuflagem, entre outros.


No caso das nossas novas amigas, existem hipóteses de que o polimorfismo pode estar associado às condições ambientais locais, porém, esse assunto ainda está em aberto na comunidade científica, devido à ausência de estudos que comprovem que fatores ambientais moldem a expressão cromática em serpentes.


O que será, então, que gera o policromatismo nas cobras veadeiras? Causas ambientais? Fatores exclusivamente genéticos? Fatores neutros? Seria por que ela simplesmente deseja ser colorida?


Independentemente dessas questões em aberto, podemos chegar à conclusão de que o polimorfismo cromático é um fator muito importante no sucesso ecológico de algumas espécies. Além de possibilitar que as “suaçuboias” tenham uma aparência simplesmente deslumbrante, sendo um verdadeiro show para quem as encontra nas florestas e conseguem tirar algumas fotografias dessa belíssima serpente.


Referências

Bicho da Vez: Suaçubóia (Corallus hortulanus). Disponível em: <http://www.museudezoologia.ufv.br/bichodavez/edicao01.htm/>. Acesso em: 13 de maio de 2019.

Calderón, M., Ortega, A., Nogueira, C., Gagliardi, G., Cisneros-Heredia, D.F., Hoogmoed, M., Schargel, W. & Rivas, G. 2016. Corallus hortulanus. The IUCN Red List of Threatened Species 2016: e.T203210A2762194. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T203210A2762194.en. Downloaded on 04 March 2020.

Duarte et al., 2015. Polychromatism of populations of Corallus hortulanus (Squamata: Boidae) from the southern Amazon Basin, Brazil.



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