Por Bárbara Santos Teixeira Costa
De acordo com a herpetóloga Ana Carvalhal (2016), a intensificação das mulheres na herpetologia brasileira é recente, através de uma análise preliminar no Google Scholar da data de publicações de docentes femininas em comparação a docentes masculinos. Nessa matéria, abordaremos o histórico das mulheres na herpetologia, os seus impactos e como se deram os primeiros movimentos femininos na área.
Figura 1. Bertha Lutz examinando anfíbios no Museu Nacional. Fonte: Mulheres de Luta.
Quando se pensa em uma figura histórica feminina, que possuiu um papel crucial na herpetologia, é difícil não pensar na grandiosa Bertha Lutz. Bertha Maria Júlia Lutz nasceu em 1894, filha do médico Adolfo Lutz, considerado o pai da medicina tropical e da zoologia médica no Brasil. Bertha realizou sua graduação em Paris, onde obteve seu título no curso de ciências naturais. Após terminar sua graduação, Bertha retornou ao Brasil, e começou a trabalhar na Seção de Zoologia do Instituto Oswaldo Cruz, como auxiliar de pesquisa de seu pai. Após isso, ingressou no Museu Nacional como secretária, e no ano seguinte, ajudou a fundar a entidade Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher (1919). Bertha teve um papel fundamental na luta para o voto feminino no Brasil, e também ajudou a fundar a Federação Brasileira para o Progresso Feminino (1922) e a União Universitária Feminina (1929). Suas contribuições para a herpetologia se deram através dos estudos de anfíbios anuros, onde obteve um vasto número de publicações na área, obtendo avanços tanto na área do feminismo brasileiro como na área dos anfíbios brasileiros, sendo considerada a primeira herpetóloga do Brasil (Fiocruz, s/ i).
Desde então, o número de herpetólogas vêm crescendo no país. Iniciativas como o grupo Herpetologia Segundo Herpetólogas (H2H) são imprescindíveis para uma devida melhora no cenário, que apesar dos avanços, ainda há muito trabalho a ser feito. De acordo com Daniella França (2019), integrante do grupo acima, a herpetologia, que sempre foi ocupada por homens, com o avanço do feminismo, as mulheres vêm ocupando cargos que anteriormente eram apenas masculinos, sendo relevantes na ciência e trabalhos de campo, porém, apresentam ainda baixa representatividade em determinados espaços.
Já no cenário internacional, temos grandes herpetólogas como:
Helen Thompson Gaige (1890 - 1976), que foi uma herpetóloga americana, curadora dos répteis e anfíbios da coleção da Universidade de Michigan. Helen tornou-se editora chefe na revista Copeia em 1937, sendo a primeira mulher em tal cargo na revista, e foi responsável pela descoberta do gênero de salamandras Rhayacotriton. Sua influência na herpetologia foi tão relevante, que há um fundo monetário chamado Gige Found Award, que auxilia estudantes da graduação na área da herpetologia (Lynne Parenti; Marvalee Wake, 2016).
Mary Dickerson (1866 - 1923), foi uma herpetóloga americana e primeira curadora do Museu Americano de História Natural, e foi responsável por diversas publicações de artigos científicos e livros. Mary descreveu mais de 20 espécies de répteis, e foi homenageada em diversas outras.
No fim de sua vida, Mary apresentou diversos distúrbios mentais, onde os homens culparam a carga de trabalho de Mary por ela ser “extremamente ambiciosa”. Até hoje, Mary não é tão reconhecida como outros herpetólogos de sua área, apesar de seu trabalho possuir extrema relevância (Hougton, 2020).
Outras herpetólogas americanas, como Olive Stul e Doris Mable Cochran também foram imprescindíveis para a herpetologia, desenvolvendo estudos na década de 20 e 30. Jagannathan Vijaya, foi a primeira herpetóloga indiana, quando a carreira era desconhecida no país. Seu trabalho girou em torno das tartarugas, e em 2006, a tartaruga alvo de seus estudos foi rebatizada em sua homenagem (Lenin, 2006).
O histórico da herpetologia feminina ainda precisa ser bem explorado, e que apesar de serem poucas as figuras femininas, elas existiram e foram muito relevantes para os estudos atuais. Elas precisam ser lembradas, pois apesar de todas as dificuldades impostas ao seu gênero, elas prosperaram e desenvolveram estudos e pesquisas incríveis, inspirando uma geração de mulheres cientistas a continuar pesquisando, apesar de tudo.
REFERÊNCIAS
CARVALHAL, A. C. Breve reflexão sobre mulheres cientistas, e nossa representatividade na Sociedade Brasileira de Herpetologia. Herpetologia Brasileira, v. 5, n. 2, p. 47-48. 2016.
FIOCRUZ. Bertha Lutz. Fiocruz, s/ i. Disponível em <https://www.bvsalutz.coc.fiocruz.br/html/pt/static/trajetoria/heranca/bertha.php>. Acesso em 22/06/23.
FRANÇA, D. et al. Herpetologia Segundo as Herpetólogas: Uma proposta feminina de divulgação científica e Educação Ambiental. In: ANAIS DO IX CONGRESSO BRASILEIRO DE HERPETOLOGIA, Campinas. 2019.
HOUGTON, E. Mary Cynthia Dickerson: A Forgotten Female Herpetologist. In Symposium Of University Research and Creative Expression. 2020.
LENIN, J. Vijaya, India’s first woman herpetologist. Indian Ocean Turtle Newsletter, v. 4, p. 29-32. 2006.
PARENTI, L. R.; WAKE, M. H. Evolution of the role of women in the American Society of Ichthyologists and Herpetologists. Copeia, v. 104, n. 2, p. 594-601. 2016.
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