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MICROHÁBITATS DE GIRINOS

Texto por: Katarine N. Norbertino



É conhecido pela maioria das pessoas que grande parte dos anfíbios apresentam fase larval de vida livre, denominada de “girino”. Dessa maneira, ao ouvirmos sobre girinos, geralmente as pessoas pensam em organismos aquáticos que, ao fim da metamorfose, tornam-se sapos adultos e, assim, alcançam o ambiente terrestre. Entretanto, há uma diversidade gigantesca nas estratégias reprodutivas dos anfíbios anuros, de tal forma que o modo de vida subaquático dos girinos é apenas uma dentre as muitas estratégias exibidas.


Imagem 1. Girino com pernas bem desenvolvidas em ambiente aquático. (Fonte: Thiago Silva-Soares).


É inegável que o ambiente mais utilizado pelos girinos da maioria das espécies é o meio aquático. Ainda assim, esse não é ocupado de forma homogênea, apresentando uma gama de condições físico-químicas que são exploradas de diferentes maneiras. A exemplo, temos os ambientes de água corrente (denominados de ambientes lóticos), tais como córregos, riachos, cachoeiras. Outro exemplo são os ambientes de água parada (chamados de ambientes lênticos), como os famigerados brejos, lagoas, açudes, mas também águas contidas temporariamente em bromélias, cavidades rochosas, etc. Os girinos também podem apresentar diferenças na ocupação da coluna d’água desses meios.


Associados a ambientes úmidos, mas não necessariamente aquáticos, há os girinos semiterrestres. Esses ficam grudados em rochas úmidas, por meio de adaptações na estrutura oral, não tendo hábito de ficarem submersos. Alguns exemplos são espécies dos gêneros Thoropa e Cycloramphus.


A família Hemiphractidae é conhecida por possuir as “pererecas-marsupiais”, nome dado em virtude dessas pererecas carregarem seus ovos nas costas. Algumas delas possuem a capacidade de absorver esses ovos, recobrindo-os com tecidos da epiderme. Assim, essas pererecas criam uma estrutura conhecida como marsúpio, na qual os girinos se desenvolvem até concluírem a metamorfose. Essa “bolsa de ovos” nas costas também é registradas em espécies da do gênero Pipa (família Pipidae), entretanto, a diferença é que os adultos dessas espécies são totalmente subaquáticos.


Ainda na categoria “girinos associados aos pais”, há alguns casos em que espécies de Colostethus mantêm os girinos nas costas durante determinado período. Todavia, para concluir a metamorfose, o indivíduo adulto carrega esses girinos até um corpo d’água, no qual os mesmos se desenvolverão em ambiente subaquático.

No gênero Adenomera foram registrados girinos que se desenvolvem em ninhos construídos em câmaras subterrâneas. E apenas com as condições oferecidas pelo ninho os girinos conseguem se desenvolver para estágios mais avançados. Nesses casos, os girinos se alimentam do vitelo disponível pelos ovos, e a espuma do ninho aparentemente protege os indivíduos contra o ressecamento.



Imagem 2. Girino de Boana pardalis (A) e Boana semilineata (B), ambas em ambiente aquático. (Fonte: Thiago Silva-Soares).


Por fim, espécies cujo modo reprodutivo é mais especializado possuem uma maior exigência quanto às condições ambientais. Por exemplo, as espécies que não apresentam desenvolvimento subaquático necessitam de regiões úmidas para sobreviverem. Assim, é notável que a presença desses modos especializados está fortemente associada à áreas florestadas. Com isso, assegurar a conservação de diferentes tipos de ambientes naturais é imprescindível a manutenção da diversidade de anfíbios.




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