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MAS ELA MORDE?

Entendendo os tipos de dentição das serpentes.


Texto: Bruno Corrêa


Quando vamos para campo com pessoas leigas ou ainda calouros que estão ávidos em manusear as serpentes, é comum ouvirmos a pergunta “Ela é venenosa?”. Mas então o que diferencia uma serpente peçonhenta de uma não-peçonhenta? É a cabeça triangulada? Pupilas em fenda? Cauda fina? Na realidade a maioria dessas características estão presentes em serpentes peçonhentas ou não, por exemplo, a cabeça das Jiboias (Boa constrictor) apresentam triangulações e não apresentam risco de causar um acidente ofídico.


Figura 1: (A) Bothrops itapetiningae, (B) Micrurus frontalis, (C) Crotalus durissus e (D) Lachesis muta. Fotos: (A) e (C), Bruno Corrêa; (B) Henrique Nogueira; (D) Arthur Sena.


Atualmente no Brasil temos 4 tipos de acidentes ofídicos, Botrópico (causado por serpentes do gênero Bothrops, as jararacas), Crotálico (causado por serpentes do gênero Crotalus, as cascavéis), Elapídico (causado por serpentes do gênero Micrurus, as corais verdadeiras) e Lachético (causado por serpentes do gênero Lachesis, as sururucu-pico-de-jaca) (figura 1), entretanto algumas espécies da família Colubridae podem causar acidentes ofídicos, como as dos gêneros Philodryas, Clelia e Helicops (Nishioka & Silveira, 1994; Carvalho & Nogueira, 1998; Fonseca et al. 2009).


Mas por quê essas serpentes conseguem causar esses acidentes? Essa resposta é simples, todos elas possuem uma dentição que lhes permite a inoculação do veneno em suas presas ou no caso de defesa, em seus predadores. Porém no caso das serpentes a dentição varia em quatro grandes grupos, as solenóglifas, opistóglifas, proteróglifas e as áglifas (figura 2). As jararacas, cascavéis e as surucucus possuem dentição solenóglifas (‘soleno’ = tubo, canal; ‘glyphos’ = sulco), já as corais-verdadeiras são proteróglifas (‘proto’ = posterior) e as serpentes da família Colubridae que causam acidentes ofídicos são opistóglifas (‘Opisthen’ = atrás).


Figura 2: Tipos de dentição das serpentes. Fonte: Santos et al. 1995.


O Ministério da Saúde – Fundação Nacional de Saúde, em 2001 fez o “Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos” que é o documento no qual os hospitais públicos e privados trabalham no atendimento no caso de acidentes com aranhas, escorpiões, insetos, peixes e serpentes, nele você encontra os sintomas e tratamentos para os principais casos, esse documento encontra-se disponível em formato PDF no website do Ministério da Saúde.


Como identificar uma serpente peçonhenta

Quando encontramos uma serpente em campo, nunca devemos manusear de forma displicente, mesmo que conheça a espécie, pois algumas cobras da família Colubridae podem causar envenenamentos. Mas uma característica clara no reconhecimento de uma espécie peçonhenta é a presença da fosseta loreal, que é um órgão termorreceptor que fica entre os olhos e a narina, presente em serpentes da família Viperidae (figura 3).


Os olhos terem pupilas em fenda não é uma característica única das serpentes peçonhentas, mas sim de cobras com hábito noturno, como por exemplo a dorme-dorme (Imantodes cenchoa) que é uma serpente noturna bastante comum em matas fechadas e que possui dentição áglifa, ou seja, sem peçonha.


Figura 3: Exemplar de Bothrops neuwidie com destaque em sua fosseta loreal. Bruno Corrêa.


Para o auxílio na identificação, o Ministério da Saúde fez um fluxograma que pode ajudar:



Por tanto, quando não souber qual a espécie que você está lidando, nunca mexa com o animal. Em caso de acidente, vá ao centro de saúde mais próximo, hidrate-se bastante e não aplique torniquetes ou deixe que chupem o veneno, isso não irá salvar ou ajudar, se possível tire uma foto do animal e leve para o hospital para ajudar na identificação pela a equipe médica.


Lista de espécies de importância médica no estado do Espirito Santo:


Referências

Carvalho, M. A. D., & Nogueira, F. (1998). Snakes from the urban area of Cuiabá, Mato Grosso: ecological aspects and associated snakebites. Cadernos de Saúde Pública, 14(4), 753-763.

Dos-Santos, M. C., Martins, M., Boechat, A. L., Sá-Neto, R. P., & Oliveira, M. E. (1995). Serpentes de interesse médico da Amazônia. UA/SESU.

Fonseca, Z. A., Rodrigues, M. N., Sousa, Ê. S., Moura, E. S. R., & Bezerra, A. C. D. S. (2009). Levantamento epidemiológico dos acidentes por animais peçonhentos no semi-árido do Rio Grande do Norte, Brasil: 2000 a 2008. Acta Veterinaria Brasilica, 3(3), 127-131.

Nishioka, S. D. A., & Silveira, P. V. P. (1994). Philodryas patagoniensis bite and local envenoming. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 36(3), 279-281.

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