Redatora: Fernanda Oliveira Pigossi
Revisora: Érika Santana
Os jabutis são quelônios terrestres muito populares por sua longevidade, resistência e pela sua vagarosidade. Fazem parte da família Testudinidae, que é muito diversa e contém um grande número de espécies: é a segunda maior família da ordem Testudines.
No Brasil, a espécie jabuti-piranga, ou jabuti-vermelho (Chelonoidis carbonarius), se tornou especialmente popular, principalmente por seu temperamento dócil e pela coloração avermelhada na cabeça e nas patas. Estsa popularidade tornou o jabuti-piranga um alvo do comércio ilegal. Hoje a espécie está ameaçada de extinção, e boa parte dos exemplares é criada em cativeiro ao invés da natureza.
Imagem 1: Exemplar da espécie Chelonoidis carbonarius, o popular jabuti-piranga. Foto: Héctor Schreiber, 2018.
Se você, assim como eu, cresceu numa casa com quintal, provavelmente já abrigou um jabuti-piranga. Nesse caso, eu tenho alguns palpites do que pode ter acontecido ao seu amado jabuti: ele pode ter simplesmente desaparecido, pode ter sido atacado pelo seu cão de estimação, pode ter ficado grande demais e doado para alguém que tinha mais espaço ou… você descobriu que a sua jaboti era fêmea da forma mais inusitada possível! É nesta última possibilidade que vamos nos aprofundar.
É comum que nas fêmeas de jabuti-piranga em cativeiro aconteça algo chamado distocia, que é um nome técnico para a retenção de ovos. A retenção de ovos é muito comum em répteis criados em cativeiro, mas tem sido particularmente comum nos jabutis.
Imagem 2: Radiografia latero-lateral de um jabuti-piranga evidenciando a retenção de ovos na cavidade celomática do animal. Foto: Lidiane Alves, 2014.
Mas por que isso acontece?
A reprodução do jabuti é ovípara e depende, em especial, de quatro fatores: o ciclo térmico, a oferta de alimento, o fotoperíodo e a temperatura. Se houver erro no manejo de qualquer um desses fatores, pode ocorrer deformidade nos ovos e problemas na oviposição. Na maioria dos casos, a primeira pista da distocia é escavação de ninhos sem deposição de ovos, mas os sintomas podem evoluir rapidamente e o animal pode desenvolver perda de peso, infecções generalizadas e até ir a óbito, se não houver intervenção médica. Em grande parte dos casos, é necessária intervenção cirúrgica para a retirada dos ovos retidos na cavidade celomática do animal, podendo até ser necessária a realização de castração.
Imagem 3: Incisão em plastrão de um jabuti-piranga para a remoção de ovos e ovários. Foto: Bianca Sandrin Saim, 2022.
Toda espécie tem suas vulnerabilidades, não importa o quão resistente seja ou qual a sua expectativa de vida. Os jabutis não são uma exceção. A distocia em répteis ocorre majoritariamente em animais em cativeiro. Por isso, fica o alerta: cada espécie demanda cuidados, conhecimento e empatia. Nenhum animal é descartável.
Por último, mas não menos importante: faça a sua parte para preservar nossa fauna! O comércio ilegal tem condenado cada vez mais animais. Se pensar em adquirir alguma espécie silvestre, procure um criadouro autorizado pelo Ibama ou pelo órgão estatal ou distrital responsável.
Referências:
BUTANTAN. Jabuti-piranga, um quelônio pacífico e que gosta de sombra e água fresca. 2022. Disponível em: https://butantan.gov.br/bubutantan/jabuti-piranga-um-quelonio-pacifico-e-que-gosta-de-sombra-e-agua-fresca. Acesso em: 09 jul. 2024.
FIOCRUZ. Jabuti. Disponível em: https://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/jabuti.htm#:~:text=Existem%20duas%20esp%C3%A9cies%20de%20jabutis,chegar%20at%C3%A9%20os%20100%20anos. Acesso em: 09 jul. 2024
RIVA, Henrique Guimarães et al. Retenção de ovos em jabuti piranga (Chelonoidis carbonaria)–relato de caso. In: Anais do XVII Congresso e XXIII Encontro da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens. 2014.
SAIM, Bianca Sandrin et al. Distocia em Jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria) em cativeiro: Relato de caso. Pubvet, v. 16, n. 01, 2022.
MENDONÇA, Talita Oliveira; MUNIZ, Igor Mansur. RETENÇÃO DE OVOS EM JABUTITINGA (Chelonoidis denticulata) POR ERRO DE MANEJO NA ESTRUTURA AMBIENTAL–RELATO DE CASO. 3o SIMPÓSIO MULTIDISCIPLINAR SOBRE RELAÇÕES HARMÔNICAS ENTRE, p. 17. 2019.
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