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“COMO É DIFÍCIL SER SAPO!”


Você já parou para pensar em como é difícil ser um sapo? Pois bem, essa é uma tarefa um tanto complicada para a sobrevivência desse anfíbio, que apesar de ser visto de forma preconceituosa e injusta, segue cumprindo seu papel na natureza.


Texto: Suellen de Oliveira Guimarães


Rhinella diptycha, com suas glândulas paratóides visíveis, próximas aos olhos. Fotografia: Thiago Silva-Soares


Visão ao longo da história

Na Idade Média, os sapos, passaram a serem vistos negativamente pela sociedade, sendo associados a manifestações malignas e bruxaria. Atualmente, a ideia de que são seres repugnantes e a fama de “vilões” prevalece na cabeça da maioria das pessoas, que ao longo dos anos foram herdando essa visão errônea. Dessa forma, essa dura realidade continua fazendo parte da dupla vida desses vertebrados.


É comum ouvir pessoas dizendo as seguintes frases sobre os sapos: “Que bicho nojento!”, “Não chega perto que ele esguicha veneno”, “Não pega na mão porque isso transmite doença” ou ainda “Xixi de sapo cega!”. Porém, tudo não passa de mitos e falta de conhecimento sobre esses anfíbios! (Com exceção do sapo amazônico Rhaebo guttatus que consegue espirrar o veneno das suas glândulas, mas ele não ocorre em Mata Atlântica).


Os denominados sapo-cururu

Essa repulsa pelos sapos pode ser evidenciada pelo gênero Rhinella, por exemplo, popularmente denominados de sapo-cururu. A espécie Rhinella schneideri, popularmente conhecida como cururuzão ou sapo-boi, e que recentemente teve seu nome científico alterado para Rhinella diptycha, é um anuro de grande porte, podendo atingir mais de 20 cm de comprimento, encontrado ao longo de toda planície costeira do litoral do Espírito Santo. Seu habitat corresponde a áreas abertas, tais como clareiras na floresta, campos naturais, brejos e lagos, além de se adaptarem muito bem a áreas antropizadas. Possuem a pele áspera e grandes glândulas de veneno situadas atrás dos olhos e acima dos tímpanos, chamadas de paratóides.


O tamanho, a textura da pele e a presença das glândulas de veneno, fazem com que essa espécie seja temida por muitas pessoas, pois acreditam que o cururu pode espirrar veneno, e até mesmo “transmitir” verrugas quando tocado.


No entanto, apesar de apresentarem essas características, são seres inofensivos para os seres humanos, pois não possuem a capacidade de esguichar veneno, muito menos de injetar. O veneno somente é secretado quando as glândulas são pressionadas, fato que ocorre nos casos de predação (quando um animal o predador, se alimenta de outro a presa). Sendo assim, o veneno é característico da defesa dessa espécie contra potenciais predadores e somente!


Rhinella diptycha, com suas glândulas paratóides bem visíveis, próximas aos olhos. Fotografia: Instituto Rã-Bugio


Como o homem é beneficiado por esses anfíbios?

Os anfíbios anuros (sapo, perereca e rã) em geral, trazem diversos benefícios para o homem, atuando como bioindicadores de qualidade ambiental, por serem sensíveis a alterações climáticas e a poluição, devido a sua pele extremamente úmida e permeável; são controladores de pragas e muitos insetos que prejudicam lavouras e a saúde do homem; e ainda servem de alimento para outras espécies importantes, mantendo dessa forma o equilíbrio da cadeia alimentar.


Porém, a falta de conhecimento faz com que muitos não tenham essa percepção e acabem menosprezando e matando esses anfíbios de forma dolorosa, por exemplo, a pauladas ou tacando sal sobre eles.


Portanto, é necessário conscientizar a sociedade sobre a importância desses seres vivos e do seu papel na natureza, desmistificando mitos e preconceitos que são impregnados geração após geração, e que aumentam a indiferença das pessoas por esses animais.

Sendo assim, façamos a nossa parte, respeitando e preservando nossos anuros. Afinal, é fácil julgar a aparência e inventar mitos, porém, difícil é ser sapo e cumprir seu papel na natureza, sem a qual nós seríamos afetados diretamente por graves conseqüências.



Referências

Bastos, R. P. et al. 2003. Anfíbios da Floresta Nacional de Silvânia, Estado de

Goiás.


Haddad, C. F. B. et al. (2013). Guia dos Anfíbios da Mata Atlântica: diversidade e biologia. Editora Anolisbook.


Lavilla, E. O., and F. Brusquetti. (2018). “Amphibian Species of the world”. Disponível em: http://research.amnh.org/vz/herpetology/amphibia/Amphibia/Anura/Bufonidae/Rhinella

/Rhinella-diptycha. Acesso em 20 janeiro de 2019.


Maffei, F. Ubaid, F. K. Jim, J. (2011). Anfíbios Fazenda Rio Claro Lençóis Paulistas SP Brasil. Editora Canal 6.


Ramos, A. D., Gasparini, J. L. (2004). Anfíbios do Goiapaba-Açu, Fundão, Estado do Espírito Santo.

“Instituto Rã-Bugio Para Conservação da Biodiversidade”. Disponível em:

http://www.ra-bugio.org.br/anfibios_sobre_02.php. Acessado em 20 janeiro de 2019.


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