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ATÉ OS MENORES ANUROS PODEM SER INVASORES!

Atualizado: 8 de mai. de 2019

Você provavelmente já se deparou com o termo “espécies invasoras”, talvez o exemplo mais bem conhecido seja o do temeroso caramujo-gigante-africano (Achatina fulica). Há cerca de 20 anos, comerciantes brasileiros que procuravam uma alternativa mais barata como substituto do escargot (iguaria da culinária francesa) investiram em fazendas desse molusco africano. A aposta comercial fracassou e milhares de indivíduos dessa espécie foram ingenuamente libertos à natureza. O tiro saiu pela culatra quando perceberam que esses animais se reproduzem em uma taxa muito mais alta que o caramujo brasileiro, tanto a ponto de estabelecerem populações em mais de 20 estados brasileiros.

Texto: Leticia Watanabe



Caramujo-gigante-africano, Achatina fulica . Fotografia: HARNZING



Bromélias contendo uma surpresa!

Você possivelmente pode pensar: “Então as únicas espécies que poderiam ser invasoras são as que vem de outros países?! E que são grandes o suficiente para serem propositalmente transportadas?” A resposta para ambas as perguntas é não! Uma espécie encontrada no estado do Espírito Santo pode se tornar invasora em São Paulo, por exemplo.


É o caso da perereca-bruxinha ou perereca-das-bromélias (Phyllodytes luteolus), um pequenino anuro endêmico da Mata Atlântica e encontrado desde a Paraíba, passando por Bahia, Espírito Santo, norte do Rio de Janeiro, e até Minas gerais, sem contar com outros estados do Nordeste. Essa espécie de anuro é bromelígena, ou seja, depende necessariamente de uma bromélia para seu hábito de vida (reprodução, postura de ovos, etc.)


No verão de 2013, Lucas Rodriguez Forti, biólogo e pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), notou uma grande quantidade de pererecas-bruxinhas habitando os jardins de um condomínio residencial em Guarujá-SP. Sabendo que não havia registros dessa espécie na mata nativa, ele logo pressupôs o motivo da invasão: plantas ornamentais que haviam chegado para adornar o condomínio, incluindo bromélias.


Perereca-bruxinha, Phyllodytes luteolus Fotografia: Leticia Watanabe




Mais exemplos...

Muitos outros anfíbios (dos mais variados tamanhos), podem se tornar invasores e os motivos são os mais bizarros. A rã-touro (Lithobastes castesbeianus) é naturalmente da América do Norte e foi introduzida na herpetofauna brasileira do século XX ao escapar de ranários. Outro exemplo de bioinvasor é o sapo-cururu (Rhinella marina) trazido da região Nordeste pelo padre Francisco Adelino em 1988 até a ilha de Fernando de Noronha; esses sapos foram usados por ele como uma forma de controle biológico “caseiro”, para se alimentarem de alguns insetos que atrapalhavam o desenvolvimento de sua horta.

Conhecer para preservar

Cada animal exerce uma importância ecológica no ambiente em que habita. Espécies invasoras trazem consigo desequilíbrio ecológico, a proliferação delas é potencializada por ausência de predadores e excesso de recursos. Além de perturbarem o ciclo de vida, a perpetuação das espécies nativas (no caso de alguns anuros, por exemplo, a vocalização das espécies invasoras pode atrapalhar a comunicação das nativas); a competição por recursos como espaço, água e alimento é drasticamente aumentada. Para o ser humano espécies invasoras podem trazer consigo doenças, como no caso inicial do caramujo africano. Preservar os animais em seus devidos habitats é fundamental para a manutenção de um meio ambiente equilibrado e sustentável.

Referências:

Fontoura R. (2009): Caramujos Africanos: Invasores indesejados. Disponível em: http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=605&sid=32. Acessado em 18 de janeiro de 2019.


Frost, Darrel R. 2017. Amphibian Species of the World: an online reference; Fontoura, Renata. Instituto Oswaldo Cruz.


Rossi M. (2017). Pererecas 'invasoras' preocupam cientistas no litoral de São Paulo. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/pererecas-invasoras-preocupam-cientistas-no-litoral-de-sao-paulo.ghtml. Acessado em 26 de março de 2019.


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