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A PARTENOGÊNESE DO LAGARTO Ameivula nativo

Texto: Bárbara Santos Teixeira Costa


Conhecido como lagartinho-listrado ou até lagartinho-de-linhares, o lagarto Ameivula nativo (Rocha, Bergamo & Peccinini-Seale, 1997) ocorre na Mata Atlântica dos Estados do Espírito Santo e Bahia, e está classificado como em “Perigo” de extinção. Além disso, esse lagarto possui uma característica muito especial: é o único do seu gênero que realiza a partenogênese. Não se lembra do que é? Então venha com a gente!


Figura 1: Ameivula nativo. Autoria: Leonardo Merçon (Instagram - @leonardomercon)


A espécie


Como dito antes, A. nativo ocorre na Mata Atlântica, mais especificamente nas matas de restinga, sendo encontrado em bordas de moitas e sob a vegetação herbácea. É uma espécie diurna, terrícola e de forrageamento ativo, no qual a espécie se alimenta procurando as presas em seu habitat, ao invés de esperar para emboscá-las.


Habitat


As restingas onde ocorrem estas espécies estão em diversos graus de alteração por conta do desenvolvimento acelerado e expansão imobiliária, o que compromete a densidade populacional da espécie. Menezes e Rocha (2013) estimaram que ambientes mais alterados possuem menor densidade da espécie, e além disso, foi estimado que, entre 2007 e 1997, cerca de 50% das áreas que compõem o habitat de A. nativo foram destruídas (Rocha et al., 2007).


Partenogênese


Figura 2: a) Ameivula ocellifera. Autoria: J. P. Miranda. b) Glaucomastix abaetensis. Autoria: Marco Freitas


No gênero Ameivula, que faz parte da família Teiidae, apenas A. nativo realiza a partenogênese, possuindo apenas indivíduos fêmeas. A partenogênese é um processo no qual a geração do embrião se dá sem ocorrer a fecundação, ou seja, o embrião é gerado a partir de um gameta feminino diploide (que apresenta um conjunto cromossômico) ou haploide (que apresenta dois conjuntos cromossômicos) sem nenhuma fusão de células.


Existem diversas hipóteses para o surgimento da partenogênese em determinadas espécies, mas no caso de Ameivula nativo há uma hipótese de hibridização, onde foi proposto que as espécies A. ocellifera e Glaucomastix abaetensis podem ser suas prováveis parentes (Arias et. al, 2011 e Dias et. al, 2002), pois as duas espécies ocorrem simpatricamente nas áreas de restinga de Abaeté, na Bahia. Para que seja validada tal hipótese, mais estudos genéticos são necessários.


Isso demonstra que nem ao menos conseguimos entender completamente qual a origem de sua partenogênese, e já podemos não o encontrar mais nas matas no futuro. Essa é a extrema importância de se conservar as áreas de ocorrência desse lagartinho incrível e singular, para que ele continue existindo e enfim possamos compreendê-lo completamente.


Referências


ARIAS, F.; CARVALHO, C. M.; RODRIGUES, M. T.; ZAHER, H. Two new species of Cnemidophorus (Squamata: Teiidae) of the C. ocellifer group, from Bahia, Brazil. Zootaxa, v. 3022, n. 1, p. 1-21. 2011.


DIAS, E. J. R.; ROCHA, C. D.; VRCIBRADIC, D. New Cnemidophorus (Squamata: Teiidae) from Bahia State, Northeastern Brazil. Copeia, v. 4, p 1070-1077. 2002.


MENEZES, V. A.; ROCHA, C. F. D.; DUTRA, G. F. Reproductive ecology of the parthenogenetic whiptail lizard Cnemidophorus nativo in a Brazilian Restinga habitat. Journal of Herpetology, v. 38, n. 2, p. 280-282. 2004.


ROCHA, C. F. D.; BERGALLO, H. G.; PECCININI-SEALE, D. Evidence of an unisexual population of the Brazilian whiptail lizard genus Cnemidophorus (Teiidae), with description of a new species. Herpetologica, v. 53, n. 3, p. 374-382.1997.


ROCHA, C.F.D.; BERGALLO, H.G.; VAN SLUYS, M.; ALVES, M.A.S.; JAMEL, C.E. The remnants of restinga habitats in the brazilian Atlantic Forest of Rio de Janeiro state, Brazil: Habitat loss and risk of disappearance. Brazilian Journal of Biology, v.67, n.2, p.263-273. 2007.


SILVA, N. O.; SANTOS, R. M. L.; FERREIRA, J. H. G. Seleção de marcadores moleculares anônimos e estudos de diversidade genética do lagarto partenogenético ameaçado de extinção Ameivula nativo. Revista Científica UMC, v. 3, n. 3, p. 1-5. 2018.

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