Texto: Katarine N. Norbertino
Conhecidas pelos nomes populares de “cobras-cegas” ou “cobras-de-duas-cabeças”, as anfisbênias são répteis de corpo cilíndrico e a maioria das espécies, não possuem membros locomotores. Apesar dos olhos reduzidos, podem até ser “cobras-cegas” (ou quase), mas não possuem duas cabeças! Essa associação ocorre pelo fato de terem a cabeça muito parecida com a cauda (Imagem 1).
O nome científico do grupo faz jus a uma característica única; graças à relação da musculatura com o tegumento, estes animais têm a capacidade de andar para frente e para trás dentro das galerias subterrâneas, motivo pelo qual seu nome vem do grego “amphis+baino”, que significa “duplo andar”. Por serem animais de hábito fossorial, ou seja, viverem no subsolo, apresentam uma gama de características que são adaptações ao seu hábito de vida, como algumas das citadas anteriormente. Da mesma forma, algumas destas adaptações podem ser observadas no crânio desses animais. Vamos conhecê-las com mais detalhes?
Imagem 1. Amphisbaena prunicolor sobre folha seca caída. Fonte: Thiago Marcial de Castro.
Uma das características relacionadas ao crânio, comum a quase todas as espécies, é o fato das escamas cefálicas encontram-se fusionadas, representando, portanto, uma diminuição do atrito na escavação. As outras características que aqui nos interessam referem-se à morfologia óssea do crânio das anfisbênias, que apresentam um grau de compactação muito alto, gerando uma robustez nos ossos, amortecendo, assim, os impactos da escavação, sendo também indicativo tanto do tipo de solo a ser escavado quanto de que forma que ocorre a escavação.
Imagem 2. Leposternon microcephalum sobre a vegetação. Fonte: Thiago Marcial de Castro.
O tipo de crânio mais comum trata-se do arredondado (Imagem 3), cujo processo de escavação se dá de forma a forçar o solo para frente com a fronte da cabeça. Os animais que apresentam esse tipo de crânio tendem a ser encontrados ocupando solos mais superficiais, por serem mais “fáceis” de cavar. Por sua vez, o crânio em formato de pá (Imagem 2) é achatado dorso-ventralmente, sendo visualizado em animais que escavam o solo comprimindo a ponta do focinho para baixo e forçando para cima,de forma a compactar o teto das galerias. O terceiro tipo é o crânio em formato de quilha, comprimido lateralmente, associado a escavações nas quais as anfisbênias forçam as paredes laterais do túnel e, assim, as compactam. Por fim, o crânio em formato de espátula é relativamente parecido com o em forma de pá, no entanto, sua escavação é bastante particular, uma vez que raspam o substrato e o compactam na parede do túnel.
Imagem 3. Amphisbaena alba sobre o solo. Fonte: Thiago Silva-Soares.
Os três últimos tipos de morfologia craniana citados são designados enquanto tipos especializados e, possibilitam às anfisbênias ocuparem segmentos mais profundos e compactos do solo.
Nesse sentido, devido à alta exposição ao desgaste, os crânios mais especializados apresentam uma fusão de escudos cefálicos e também suturas entre variados ossos, que auxiliam a mecânica do processo de escavação e amortecem quanto ao atrito. E isso confere a esses animais um grande sucesso na ocupação de espaços quando comparado a outros répteis fossoriais.
Viu só como ser “cabeça-dura” nem sempre é um defeito?
REFERÊNCIAS
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