Texto: Carolayne Santino
Revisão: Erika M. Santana
Imagem 1- A figura representa em A dois exemplos: o primeiro é a resistência da “capa” de bactérias tolerantes a metais, o que reduz a permeabilidade do metal na pele do anuro, consequentemente tornando-o um não bioindicador de contaminação por metais. O segundo exemplo mostra um anuro bioindicador, visto que há acúmulo de metal no tecido, e danos, provavelmente levando-o à morte. Em B, o esquema exemplifica a diversidade metabólica associada às bactérias presentes na pele do anuro que metabolizam o arsênio. Fonte: Amphibian tolerance to arsenic: microbiome‑mediated insights, 2024.
Anuros (sapos, rãs e pererecas) são historicamente apontados como bioindicadores, ou seja, organismos especialmente sensíveis às alterações ambientais, como aquelas causadas pela presença de contaminação. A razão está na pele extremamente sensível dos anuros, por meio da qual eles fazem as trocas gasosas (respiração). Acontece que em 2019 pesquisadores observaram diversas espécies de anuros vivendo em uma área contaminada com arsênico (semi-metal altamente tóxico) em Ouro Preto, MG.“Como é possível haver tantos sapos e pererecas numa área com alta contaminação de arsênio?” “O que há por trás dessa resistência ao arsênico?” Com estas questões em mente, os pesquisadores realizaram uma observação incrível (Cordeiro et al. 2019), que foi recentemente testada e publicada em uma importante revista científica (Cordeiro et al 2024).
Imagem 2 - Acima, duas das espécies analisadas nos estudos dos pesquisadores. A espécie Boana polytaenia, é uma pererca encontrada em ambientes aquáticos e é mais resistente ao arsênico; já a espécie Rhinella crucifer é um sapo encontrado em ambientes terrestres e é menos resistente ao arsênico. Fotos: Mauro Teixeira Junior, 2018.
Qual foi a descoberta feita pelos pesquisadores?
Em 2019, os pesquisadores descobriram que a pele dos anuros que viviam na área contaminada por arsênico era coberta por diversos microorganismos (ou seja, microbiota) resistentes ao arsênico. Mas será que estes organismos de fato protegiam os anuros da contaminação? Foi o que os pesquisadores testaram em 2024! Os pesquisadores então descobriram que o biofilme produzido por essa microbiota resistente reduz a permeabilidade da pele dos anuros ao arsênico,os protegendo da intoxicação e aumentando sua resistência. Os pesquisadores também descobriram que as espécies que vivem em maior exposição ao arsênico (como em ambientes aquáticos) possuem uma microbiota mais resistente ao arsênio do que as espécies que vivem em ambientes terrestres contaminados.
A grande questão agora é: dado que a microbiota da pele dos anuros pode dar a eles resistência à contaminação, será que ainda podemos chamá-los de bioindicadores? A recomendação dos pesquisadores é que esse termo passe a ser utilizado com cautela, visto que o resultado destes e de outros estudos têm mostrado que anuros podem apresentar resistência às mudanças ambientais. Mais estudos são necessários, com mais espécies e mais contaminantes, para afirmar quantas e quais espécies anuros de fato são sensíveis à contaminação ambiental.
Referências:
CORDEIRO, I. F. et al. Arsenic resistance in cultured cutaneous microbiota is associated with anuran lifestyles in the Iron Quadrangle, Minas Gerais State, Brazil. Herpetology Notes. v. 12. 30 out. 2019. Link de acesso: https://www.biotaxa.org/hn/article/view/34896
CORDEIRO, I. F. et al. Amphibian tolerance to arsenic: Microbiome-mediated insights. Scientific Reports. v. 14, 10193. 3 mai. 2024. Link de acesso:
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