Texto: Maria Eduarda Bernardino
No meio do caminho tinha uma cobra, tinha uma cobra no meio do caminho…. É preciso se desesperar?
A serpente Philodryas olfersii tranquila em seu hábitat natural. Foto: Maria Eduarda Bernardino.
Quantas podem ser perigosas?
Sim, eu sei que a gente cresceu aprendendo a sentir medo das serpentes. Quando aparecem em histórias e contos elas geralmente são malvadas, peçonhentas, prontas para fazer mal aos seres humanos. Mas será que é bem assim?
O Brasil tem 405 espécies de serpentes e apenas 63 delas são peçonhentas, ou seja, apenas cerca de 15% das serpentes brasileiras são capazes de inocular (ou injetar) toxinas em outros animais. Quando olhamos para o Espírito Santo esse número diminui ainda mais, das 80 espécies capixabas, somente 10 podem apresentar algum tipo de perigo aos seres humanos.
Quem são elas?
As serpentes brasileiras que podem oferecer maior risco aos seres humanos são as jararacas (gênero Bothrops), as corais-verdadeiras (do gênero Micrurus), a surucucu (gênero Lachesis) e as cascavéis (gênero Crotalus). Entretanto, as cascavéis não ocorrem em solo capixaba.
As cobra-corais são aquelas que apresentam dentição chamada de proteróglifa, com dois dentes inoculadores de peçonha na parte da frente da boca. Porém, essas serpentes não conseguem abrir muito sua boca, o que dificulta a inoculação das toxinas.
Já as jararacas, cascavéis e a surucucu têm a dentição solenóglifa, com duas grandes presas inoculadoras de peçonha que se projetam para a frente, quando a serpente abre a boca. Além desses dentes que podem se projetar, elas também conseguem abrir muito sua boca, facilitando a inoculação e tornando-as mais perigosas.
As toxinas dessas serpentes podem causar sérias lesões, com consequências importantes para a saúde do ser humano. Assim, possuímos soros antiofídicos, ou seja, que tratam os efeitos da peçonha no organismo, para todas essas espécies.
Quais as chances de nos depararmos com alguma dessas serpentes?
Olha, não é a coisa mais normal do mundo, não! Apesar de ocorrerem, os encontros com espécies perigosas não são tão frequentes assim, afinal são só 10 de 80 espécies, veja bem. É mais provável que você se depare com qualquer uma das outras 70 espécies, que não apresentam peçonha letal ao seres humanos.
Sim, as outras cobras também podem morder, e essa mordida pode ser dolorosa e talvez apresentar alguns sintomas importantes para a saúde humana. Ainda assim, nada comparado à mordida de cobras-coral, jararacas e da surucucu. É sempre bom lembrar que as serpentes atacam os seres humanos apenas quando se sentem ameaçadas, só assim é que elas “dão o bote” e tentam morder.
Tá, mas e o que eu faço ao ver uma serpente?
Para qualquer animal silvestre, a recomendação é sempre não se aproximar muito. Não tem porque estressar o bichinho sem necessidade, né? O melhor é a gente seguir a nossa vida e deixar o animal seguir a dele, somente observando de longe. Também não há necessidade de machucar ou tentar matar as serpentes, mesmo se ela for uma daquelas peçonhentas! Em muitos casos existem serpentes que não apresentam perigo para o ser humano, mas que são confundidas e acabam sendo mortas injustamente.
Se for preciso retirar a serpente de algum lugar, o melhor a se fazer é entrar em contato com algum órgão responsável, que possuem trabalhadores capacitados para realizar a captura e soltura do animal em outro local. No Espírito Santo você pode entrar em contato com a Polícia Ambiental (BPMA-ES) ou algum órgão (governamental ou não-governamental) da sua cidade que seja certificado pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA).
Referências
Costa, H.C. & Bérnils, R. S. 2018. Répteis do Brasil e suas Unidades Federativas: Lista de espécies. Herpetologia Brasileira, 8(1): 11-57.
Silva-Soares, T. (org.). 2019. Herpeto Capixaba. Anfíbios do Espírito Santo: Lista das espécies de anfíbios ocorrentes no Estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Disponível em: www.herpetocapixaba.com.br/
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